Alvaro Acioli
Restam em nosso universo poucas sociedades igualitárias, mágicas e atemporais. Grupamentos humanos sem hierarquia e onde tudo, no céu ou na terra, pode ser completamente explicado.
Sociedades primitivas nas quais o sobrenatural ocupa um vasto espaço idealizado e o natural um território bem pequeno. Sociedades onde os problemas das gerações contemporâneas são semelhantes, como ocorreu com seus antepassados.
Já em nossa sociedade globalizada o futuro pessoal e social é vivido como mera possibilidade. Uma sucessão de espetáculos domina o meio informado, indicando falsos modelos e bens, para seguir ou desejar. O viver tornou-se uma mera representação de papeis ;a grande verdade de hoje pode ser a farsa de amanhã.
Nesse começo do século XXI o desemprego é o presente amargo da revolução tecnológica. Trabalhar, para ter casa e comida, virou a maior fonte de angustia social.
Apenas a ilusão é uma mercadoria abundante, na sociedade do espetáculo. E a pseudo liberdade do ilusionismo dificulta, crescentemente, o encontro de objetivos pessoais, forçando as pessoas a delegarem suas decisões mais íntimas.
Não é de estranhar que esteja ocorrendo ( em todo o mundo ) uma multiplicação assustadora do número de seitas; trata-se da busca mais fanática ou da fuga mais radical, que a história humana registra.
Muitas dessas seitas controlam verdadeiros impérios econômicos, que vendem de foguetes supersônicos a simples eletrodomésticos.
No universo mágico, que domina o mercado milionário da ilusão, dois princípios são fundamentais: teorias simples e soluções práticas.
Uma atenção sedutora orienta o processo de atração dos novos adeptos. E um contacto estimulante e direto neutraliza os sentimentos de abandono, isolamento, anonimato e indefinição.
Segue-e um cuidadoso trabalho de doutrinação, para reordenar ideias e redefinir valores e conceitos. O eleito “descobre”, em pouco tempo, a superioridade da nova ordem e o sentido que tanto buscava para a sua vida.
Já incorporado, o novo membro é submetido a uma disciplina férrea, para maior entrega pessoal e completa subordinação. Só então o convertido deixa o mundo da confusão e ingressa na senda tranquilizadora da certeza e da coerência. Salvando-se, finalmente, das trevas e do purgatório.
Mas um outro caminho salvador, para os desesperados humanos, embora menos garantido, já tinha sido apontado por Fernando Pessoa, através de Alberto Caeiro: “O essencial é saber ver, saber ver sem estar a pensar ... nem pensar quando se vê, nem ver quando se pensa...mas isso exige um estudo profundo, um aprendizado de desaprender...”
E há muito poucos horas no desfile purificador das Escolas de Samba, os arautos da Viradouro hipnotizaram a massa com uma professia redentora, que os julgadores dos quesitos lamentavelmente não entenderam : “o amor está no ar, vai conquistar seu coração !”
Restam em nosso universo poucas sociedades igualitárias, mágicas e atemporais. Grupamentos humanos sem hierarquia e onde tudo, no céu ou na terra, pode ser completamente explicado.
Sociedades primitivas nas quais o sobrenatural ocupa um vasto espaço idealizado e o natural um território bem pequeno. Sociedades onde os problemas das gerações contemporâneas são semelhantes, como ocorreu com seus antepassados.
Já em nossa sociedade globalizada o futuro pessoal e social é vivido como mera possibilidade. Uma sucessão de espetáculos domina o meio informado, indicando falsos modelos e bens, para seguir ou desejar. O viver tornou-se uma mera representação de papeis ;a grande verdade de hoje pode ser a farsa de amanhã.
Nesse começo do século XXI o desemprego é o presente amargo da revolução tecnológica. Trabalhar, para ter casa e comida, virou a maior fonte de angustia social.
Apenas a ilusão é uma mercadoria abundante, na sociedade do espetáculo. E a pseudo liberdade do ilusionismo dificulta, crescentemente, o encontro de objetivos pessoais, forçando as pessoas a delegarem suas decisões mais íntimas.
Não é de estranhar que esteja ocorrendo ( em todo o mundo ) uma multiplicação assustadora do número de seitas; trata-se da busca mais fanática ou da fuga mais radical, que a história humana registra.
Muitas dessas seitas controlam verdadeiros impérios econômicos, que vendem de foguetes supersônicos a simples eletrodomésticos.
No universo mágico, que domina o mercado milionário da ilusão, dois princípios são fundamentais: teorias simples e soluções práticas.
Uma atenção sedutora orienta o processo de atração dos novos adeptos. E um contacto estimulante e direto neutraliza os sentimentos de abandono, isolamento, anonimato e indefinição.
Segue-e um cuidadoso trabalho de doutrinação, para reordenar ideias e redefinir valores e conceitos. O eleito “descobre”, em pouco tempo, a superioridade da nova ordem e o sentido que tanto buscava para a sua vida.
Já incorporado, o novo membro é submetido a uma disciplina férrea, para maior entrega pessoal e completa subordinação. Só então o convertido deixa o mundo da confusão e ingressa na senda tranquilizadora da certeza e da coerência. Salvando-se, finalmente, das trevas e do purgatório.
Mas um outro caminho salvador, para os desesperados humanos, embora menos garantido, já tinha sido apontado por Fernando Pessoa, através de Alberto Caeiro: “O essencial é saber ver, saber ver sem estar a pensar ... nem pensar quando se vê, nem ver quando se pensa...mas isso exige um estudo profundo, um aprendizado de desaprender...”
E há muito poucos horas no desfile purificador das Escolas de Samba, os arautos da Viradouro hipnotizaram a massa com uma professia redentora, que os julgadores dos quesitos lamentavelmente não entenderam : “o amor está no ar, vai conquistar seu coração !”