Alvaro Acioli
Há muito pascal advertia que todas as
coisas são causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas;
que todas se mantém unidas por um elo natural e insensível que liga as
aparentemente mais afastadas, mais distantes.
Assim, parece que tudo ainda continua a
acontecer. Adquirimos conhecimentos espantosos sobe o mundo físico, biológico,
psicológico, sociológico e muitos outros.
a ciência impõe cada vez mais os métodos
de verificação empírica e lógica. E, no entanto, por toda a parte o erro, a
ignorância, a cegueira, progridem junto aos avanços cada vez mais
extraordinários.
Quanto mais conhecimento mais indagação
e, paradoxalmente, mais desconhecimento.
Não há mais verdades, só impressões de
verdades, em todos os campos e em todos os cantos.
Torna-se crescentemente difícil simplificar
sem estimular ilusões reducionistas, que só aumentam as confusões que tentam
esclarecer.
A cada dia somos envolvidos por redes estruturadoras alternativas, com outras
ordens de valores e crenças. e por novos
paradigmas.
A circunstância humana tornou-se
contraditória e imprevisível. Os roteiros deixaram de orientar a representação.
Os velhos paradigmas foram quebrados mas
não satisfatoriamente substituídos.
Tudo parece inacabado e qualquer rumo
incerto.
Antes o pensamento era orientado pelos
mitos e crenças. Hoje o caos social está nos obrigando a reelaborar esses mitos
e essas crenças.
O que pensar, em que pensar, como pensar
?
Pisamos em terra cada vez menos firme.
O desequilíbrio tornou-se a norma social
maior. Estabilizar o desequilíbrio já é um grande avanço a celebrar, nesses
tempos de incomensurável saber e significativo obscurantismo.
A pessoa humana ainda é um desconhecido
que se mostra e se esconde a todo instante, que se afirma e se contradiz.
Continuamos buscando o consenso alimentando o conflito.
O homem ainda é o grande desafio do mundo e o mundo o supremo
desafio do homem.
Uma das missões da academia
é contribuir para melhorar o entendimento entre povos e as gerações que
coexistem mas não se reconhecem nem se solidarizam, embora vivam a situação
mais universalizada de todos os tempos.
O duelo entre a razão e a alienação desorienta cientistas,teólogos
e filósofos.
O prodigioso saber teórico está nos aprisionando entre o desconhecimento e a perplexidade,
multiplicando os mistérios que tenta
desvendar.
Novos demônios invadem o inconsciente coletivo.
Nossa sociedade vive
esmagada por crises e sufocada pelas explicações.
Não consegue mais separar o
banal do importante e este do essencial.
Não compreende o que está
acontecendo ou deixando de acontecer.
A sociedade não consegue redefinir-se nem reorientar-se.
O próximo e o distante se confundem.
O futuro vira ontem cada vez mais depressa.
A imprevisibilidade pulveriza as tradições sociais de respeito à
natureza e aos seres vivos.
Aumenta a intolerância com
os diferentes e as diferenças.
Uma desesperança triste
parece um sentimento dominante.
A missão maior e a busca
pela verdade e equilíbrio entre ciência e existência, entre o saber tecnológico
e a razão humana. Urge a participação
de todos sem condicionamentos nem limitações. Participando, compartilhando. Solidaria
e cooperativamente, saberes e reflexões, sobre a ciência e o humano.
E sempre fazê-lo priorizando a
responsabilidade ética da ciência e das tecnologias, para não perdermos a vivência
da esperança e o rumo desafiador das utopias, fundamentos maiores de nossa origem e de nossa trajetória.
Extraído de saudação proferida na
Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, em 08/09/2010.