Associados

domingo, 10 de março de 2013

Ideias e impressões do contemporâneo

Alvaro Acioli
 
Há muito pascal advertia que todas as coisas são causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas; que todas se mantém unidas por um elo natural e insensível que liga as aparentemente mais afastadas, mais distantes.
Assim, parece que tudo ainda continua a acontecer. Adquirimos conhecimentos espantosos sobe o mundo físico, biológico, psicológico, sociológico e muitos outros.
a ciência impõe cada vez mais os métodos de verificação empírica e lógica. E, no entanto, por toda a parte o erro, a ignorância, a cegueira, progridem junto aos avanços cada vez mais extraordinários.
Quanto mais conhecimento mais indagação e, paradoxalmente, mais desconhecimento.
Não há mais verdades, só impressões de verdades, em todos os campos e em todos os cantos.
Torna-se crescentemente difícil simplificar sem estimular ilusões reducionistas, que só aumentam as confusões que tentam esclarecer. 
A cada dia somos envolvidos por  redes estruturadoras alternativas, com outras ordens de valores e crenças. e  por novos paradigmas.
A circunstância humana tornou-se contraditória e imprevisível. Os roteiros deixaram de orientar a representação.
Os velhos paradigmas foram quebrados mas não satisfatoriamente substituídos.
Tudo parece inacabado e qualquer rumo incerto.
Antes o pensamento era orientado pelos mitos e crenças. Hoje o caos social está nos obrigando a reelaborar esses mitos e essas crenças.
O que pensar, em que pensar, como pensar ?
Pisamos em terra cada  vez menos firme.
O desequilíbrio tornou-se a norma social maior. Estabilizar o desequilíbrio já é um grande avanço a celebrar, nesses tempos de incomensurável saber e significativo obscurantismo.
A pessoa humana ainda é um desconhecido que se mostra e se esconde a todo instante, que se afirma e se contradiz.
Continuamos  buscando o consenso alimentando o conflito.
O homem ainda é  o grande desafio do mundo e o mundo o supremo desafio do homem.

Uma das missões da academia é contribuir para melhorar o entendimento entre povos e as gerações que coexistem mas não se reconhecem nem se solidarizam, embora vivam a situação mais universalizada de todos os tempos.
O duelo entre a  razão e a alienação desorienta cientistas,teólogos e filósofos.
O prodigioso saber teórico está nos aprisionando entre  o desconhecimento e a perplexidade, multiplicando os   mistérios que tenta desvendar.
Novos demônios invadem o inconsciente coletivo.
Nossa sociedade vive esmagada por crises e sufocada pelas explicações. 
Não consegue mais separar o banal do importante e este do essencial.
Não compreende o que está acontecendo ou deixando de acontecer.
A sociedade não consegue redefinir-se nem reorientar-se.
O próximo e o distante se confundem.
O futuro vira ontem cada vez mais depressa.
A imprevisibilidade pulveriza as tradições sociais de respeito à natureza e  aos seres vivos.
Aumenta a  intolerância com os  diferentes e as diferenças.
Uma desesperança triste  parece um sentimento dominante.
A missão maior e a  busca pela verdade e equilíbrio entre ciência e existência, entre o saber tecnológico e a razão humana. Urge a participação de todos sem condicionamentos nem limitações. Participando, compartilhando. Solidaria e cooperativamente, saberes e reflexões, sobre a ciência e o humano.
E sempre fazê-lo priorizando a responsabilidade ética da ciência e das tecnologias, para não perdermos a vivência da esperança e o rumo desafiador das utopias, fundamentos maiores de  nossa origem e de nossa trajetória.

Extraído de saudação proferida na Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, em 08/09/2010.