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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Circo da vida


Alvaro Acioli

O circo mostra o mundo de forma  caricata, de cabeça para baixo. O raro, o extravagante, o inquietante encontrou  sempre nele o palco preferido. Os monstros, a mulher-aranha, o homem-sapo, o engolidor de espadas, são alguns prodígios de sua  fauna  mágica  e  exuberante.
Todas as cortes e  reinos, tiveram e continuam  tendo,  circos particulares,  para encenar suas comédias e tragédias. O chapéu do palhaço substituiu, infinitas vezes, o  capuz dos hereges.  Nos períodos em que era suspeito rir ou chorar tornava-se manifestação de bom gosto libertar a gargalhada  mascarada em festas piedosas, geralmente realizadas nos picadeiros.
Para os mais velhos e os mais jovens o circo evoca a fantasia, lembranças do período de infância, mistura de riso e deslumbramento. As lutas no circo, como no desenho animado,  são de brincadeira ; só existem  vítimas acidentais.
Junto com a emoção e o suspense, que o público procura avidamente, o riso é fartamente ofertado. Os palhaços satirizam a realidade de suas comunidades representando mais a  condição do bobo do que a da vítima do destino ou das maldades políticas que maltratam a sociedade.
Agredido, pisoteado, humilhado, o palhaço dramatiza os erros e tolices da humanidade ; torna-se um joguete nas mãos de um outro joguete,  que se  libera da sua  dor  zombando dele.
As crianças constituem um público honesto e sincero que todos do circo respeitam, particularmente os palhaços. Eles sabem que somente rindo as crianças podem suavizar a longa caminhada, raramente alegre para a grande maioria delas.Os palhaços tentam ajudá-las porque os maiores  responsáveis não se preocupam  com a  realização afetiva nem  com o desenvolvimento físico e mental das crianças.
A comicidade do circo procura despertar o riso sem  rebaixar a dignidade humana.Explora  em todas as situações o riso máximo, seguindo o sábio conselho do importal  Chaplin.
Tenta provocar novas emoções acentuando  o ridículo da vida , através  de sua  representação grotesca. O palhaço é apenas um homem que  quer ajudar a manter a paz no grande picadeiro onde nós todos atuamos.
O circo é também  o lugar  onde os mais pobres encontram  um  pouco de alegria, embora   fugaz. É o consolo para os que improvisam  todos os dias, para os que dão saltos no vazio e fazem  malabarismos fantásticos, equilibrando-se na corda bamba e insegura dos seus míseros salários.  
Mas o aprendizado para o circo da vida  exige determinação, paciência  e muita coragem para  continuar  representando. E, principalmente,  para realizar o sonho impossível de alcançar a glória no instante fugaz