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domingo, 16 de dezembro de 2012

Não ser o que é


Alvaro Acioli
Os acontecimentos que fazem notícia, nos últimos tempos, mostram que as grandes mudanças estão sendo provocadas por meios psicológicos, bem mais do que pelas  descobertas científicas revolucionárias,  que estão acontecendo.
O desejo é a realidade mais concreta e dinâmica, na era tecnológica ; o ponto central da busca humana, o verdadeiro núcleo que gera as possibilidades que o amanhã irá comportar.
É o desejo que está pulverizando as mais sólidas e conceituadas ideologias. E também ajudando a esclarecer os descaminhos da sociedade moderna, o por que  as práticas políticas só buscam o poder, e são indiferentes à sorte dos homens,  para os quais se dizem  voltadas.
As melhores iniciativas, em favor dos direitos humanos, estão partindo da mobilização pública internacional, através de organismos não governamentais, visando realizar a solidariedade indispensável  à  consolidação da  coexistência e da paz. 
O homem começa a sentir a urgência de aprender a viver a sua intimidade, numa atmosfera privilegiada pelo anonimato. Nota, afinal,  que deve examinar primeiro o que está  buscando ou querendo, antes de aceitar as sugestões que lhe chegam, por todos os lados, conclamando-o  a  seguir destinos que estão fora de seus planos.    O homem percebe que sua  pesada culpa  pode tornar-se uma boa “desculpa”, capaz de ajudá-lo a assumir as recusas, que já  sabe inadiáveis.
Nota, também, que tem o direito de ver o mundo com olhos mais compreensivos; que abandonando a  crítica compulsiva vai livrar-se da tortura de viver julgando-se. Verifica, embora ainda timidamente, que é possível estabelecer com  os outros uma relação sem agressividade nem confronto. Está notando  que a mania de ver seus semelhantes como uma ameaça permanente é o que perpetua o pânico de sentir-se diuturnamente “perseguido”.
O homem está descobrindo que precisa buscar espaços onde possa meditar com calma e fazer-se ouvir, com mais atenção. E sente que isso pode ajudá-lo a  superar  seus sentimentos de impotência, reorientando sua vida.
Parece que  o homem começa a  acreditar  que seu vazio existencial é o fruto amargo do não saber o que acontece em seu íntimo e à sua volta ; e que é isso que está impedindo de melhorar sua vida particular. Esse homem, confrontado com o infinito e o imprevisível, está também aprendendo a indagar com  mais sabedoria.
Para descobrir suas verdades o homem necessita examinar, com muita paciência, as possibilidades  transformadoras que a sua própria  existência oferece. E continuar buscando, mesmo ante a  impossibilidade de encontrar respostas.
O homem está notando, afinal, que o grande perigo não reside na contradição de tudo o que ouve, vive ou observa,  mas na sua mania de entregar-se à primeira  ideologia mais  sedutora, por uma  tentação macabra de não ser o que é.