Alvaro
Acioli
Os acontecimentos que fazem notícia, nos últimos
tempos, mostram que as grandes mudanças estão sendo provocadas por meios
psicológicos, bem mais do que pelas descobertas científicas revolucionárias, que estão acontecendo.
O desejo é a realidade mais concreta e dinâmica, na
era tecnológica ; o ponto central da busca humana, o verdadeiro núcleo que gera
as possibilidades que o amanhã irá comportar.
É o desejo que está pulverizando as mais sólidas e
conceituadas ideologias. E também ajudando a esclarecer os descaminhos da
sociedade moderna, o por que as práticas
políticas só buscam o poder, e são indiferentes à sorte dos homens, para os quais se dizem voltadas.
As melhores iniciativas, em favor dos direitos
humanos, estão partindo da mobilização pública internacional, através de
organismos não governamentais, visando realizar a solidariedade
indispensável à consolidação da coexistência e da paz.
O homem começa a sentir a urgência de aprender a
viver a sua intimidade, numa atmosfera privilegiada pelo anonimato. Nota,
afinal, que deve examinar primeiro o que
está buscando ou querendo, antes de
aceitar as sugestões que lhe chegam, por todos os lados, conclamando-o a
seguir destinos que estão fora de seus planos. O homem percebe que sua pesada culpa
pode tornar-se uma boa “desculpa”, capaz de ajudá-lo a assumir as
recusas, que já sabe inadiáveis.
Nota, também, que tem o direito de ver o mundo com
olhos mais compreensivos; que abandonando a
crítica compulsiva vai livrar-se da tortura de viver julgando-se.
Verifica, embora ainda timidamente, que é possível estabelecer com os outros uma relação sem agressividade nem
confronto. Está notando que a mania de
ver seus semelhantes como uma ameaça permanente é o que perpetua o pânico de
sentir-se diuturnamente “perseguido”.
O homem está descobrindo que precisa buscar espaços
onde possa meditar com calma e fazer-se ouvir, com mais atenção. E sente que
isso pode ajudá-lo a superar seus sentimentos de impotência, reorientando
sua vida.
Parece que o
homem começa a acreditar que seu vazio existencial é o fruto amargo do
não saber o que acontece em seu íntimo e à sua volta ; e que é isso que está
impedindo de melhorar sua vida particular. Esse homem, confrontado com o infinito
e o imprevisível, está também aprendendo a indagar com mais sabedoria.
Para descobrir suas verdades o homem necessita
examinar, com muita paciência, as possibilidades transformadoras que a sua própria existência oferece. E continuar buscando,
mesmo ante a impossibilidade de
encontrar respostas.
O homem está notando, afinal, que o grande perigo
não reside na contradição de tudo o que ouve, vive ou observa, mas na sua mania de entregar-se à primeira ideologia mais
sedutora, por uma tentação macabra
de não ser o que é.