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terça-feira, 20 de novembro de 2012

A morte das certezas


Alvaro Acióli
Uma tendência radical tem vinculado a presente crise social do mundo à globalização. Essa atitude confunde as ações do capital internacional apátrida, que instrumenta a marcha da economia internacional, com aspectos mais profundos dessa realidade histórica.
Impõe-se uma análise crítica que relacione o impacto  desse fenômeno sobre a realização do próprio ser humano : a ação frente à democracia, aos direitos humanos, a cooperação internacional e ao usufruto da tecnologia. E um exame com esse enfoque permite vislumbrar alguns aspectos positivos.
O enfrentamento da crise mundial exige mais tecnologia e mais investimentos o que só a globalização tem condições de viabilizar, estimulando a cooperação internacional. Ela também facilita a internacionalização dos movimentos sociais, dos países em desenvolvimento, o que pode favorecer a disseminação tecnológica e o crescimento econômico.
A internet, produto típico da globalização, possibilita uma conversação sem fim, capaz de  melhorar a coesão social do mundo, ampliando as bases dos movimentos internacionais democráticos.
Superada a forma antagônica atual do processo, imposta pela dominação do capital e das grandes potencias, a globalização pode vir a tornar-se o meio mais eficaz para o surgimento de um mundo mais solidário e mais pacífico.
A ONU tem procurado orientar suas ações num sentido humanitário, não individualista. Até porque já está provado que essas tendências, se deixadas por conta da economia de mercado, dos fluxos de capital e da tecnologia, interligam mas não unem, antes esmagam ou excluem.
Por outro lado, a técnica é apenas uma resultante da interação entre a criatividade humana e o universo. Não lhe movem razões próprias. Ela está submetida a um direcionamento, que lhe supera e condiciona.
Em Hiroxima não ocorreu uma desintegração atômica espontânea; também não estão explodindo  ao acaso, as bombas que continuam a  infelicitar os homens mundo a fora.
Cada nova tecnologia rompe limites sendo frequentemente impossível antecipar os desdobramentos possibilitados por seus avanços. Tudo depende do uso que lhe destinam os atores humanos, influenciados pela história de que são herdeiros, orientados pelos problemas que enfrentam em suas sociedades e limitados pelas realidades de seus tempos.
Como nos advertiu Pierre Levy é preciso repensar os fundamentos e os instrumentos da ação política na era do "planeta unificado, dos conflitos mundializados, das mídias triunfantes, da tecno ciência multiforme e onipresente".
Uma utilização cooperativa de todas as alternativas técnicas disponíveis pode dar surgimento a um relacionamento internacional em que a harmonia prevaleça sobre a submissão.
A era da globalização marca a morte das certezas, em todos os campos do conhecimento e das ações humanas. Só a crítica incessante da ciência, das formas de coexistência e associação podem identificar os erros da ação  política,  reduzindo os males que infelicitam a nossa sociedade.