Alvaro Acióli
Uma tendência radical tem vinculado a
presente crise social do mundo à globalização. Essa atitude confunde as ações
do capital internacional apátrida, que instrumenta a marcha da economia
internacional, com aspectos mais profundos dessa realidade histórica.
Impõe-se uma análise crítica que
relacione o impacto desse fenômeno sobre
a realização do próprio ser humano : a ação frente à democracia, aos direitos
humanos, a cooperação internacional e ao usufruto da tecnologia. E um exame com
esse enfoque permite vislumbrar alguns aspectos positivos.
O enfrentamento da crise mundial exige
mais tecnologia e mais investimentos o que só a globalização tem condições de
viabilizar, estimulando a cooperação internacional. Ela também facilita a
internacionalização dos movimentos sociais, dos países em desenvolvimento, o
que pode favorecer a disseminação tecnológica e o crescimento econômico.
A internet, produto típico da
globalização, possibilita uma conversação sem fim, capaz de melhorar a coesão social do mundo, ampliando
as bases dos movimentos internacionais democráticos.
Superada a forma antagônica atual do
processo, imposta pela dominação do capital e das grandes potencias, a
globalização pode vir a tornar-se o meio mais eficaz para o surgimento de um
mundo mais solidário e mais pacífico.
A ONU tem procurado orientar suas ações
num sentido humanitário, não individualista. Até porque já está provado que
essas tendências, se deixadas por conta da economia de mercado, dos fluxos de
capital e da tecnologia, interligam mas não unem, antes esmagam ou excluem.
Por outro lado, a técnica é apenas uma
resultante da interação entre a criatividade humana e o universo. Não lhe movem
razões próprias. Ela está submetida a um direcionamento, que lhe supera e
condiciona.
Em Hiroxima não ocorreu uma
desintegração atômica espontânea; também não estão explodindo ao acaso, as bombas que continuam a infelicitar os homens mundo a fora.
Cada nova tecnologia rompe limites
sendo frequentemente impossível antecipar os desdobramentos possibilitados por
seus avanços. Tudo depende do uso que lhe destinam os atores humanos,
influenciados pela história de que são herdeiros, orientados pelos problemas
que enfrentam em suas sociedades e limitados pelas realidades de seus tempos.
Como nos advertiu Pierre Levy é preciso
repensar os fundamentos e os instrumentos da ação política na era do
"planeta unificado, dos conflitos mundializados, das mídias triunfantes,
da tecno ciência multiforme e onipresente".
Uma utilização cooperativa de todas as
alternativas técnicas disponíveis pode dar surgimento a um relacionamento
internacional em que a harmonia prevaleça sobre a submissão.
A era da globalização marca a morte das
certezas, em todos os campos do conhecimento e das ações humanas. Só a crítica
incessante da ciência, das formas de coexistência e associação podem
identificar os erros da ação
política, reduzindo os males que
infelicitam a nossa sociedade.