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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O verdadeiro si mesmo

Alvaro Acioli

A criancinha que cobre com suas mãozinhas o rostinho está convencida de que se escondeu completamente. Falta-lhe a consciência da corporalidade global. Ela Identifica suas partes corporais mas não internalizou ainda uma imagem física global. Isso vai acontecendo ao longo de sua socialização.

Curiosamente a consciência desse esconder-se dos outros - durante toda a existência –se acompanha da vivência de estar escondendo (mais que o próprio corpo) o si mesmo. Um imaginado si mesmo que deseja evitar que seja reconhecido por razões (geralmente ilusórias, ainda que bem racionalizadas) não prazerosas.

A reiteração desse procedimento de bloqueio relacional acaba por consolidar a vivência imaginaria de que o “encontro humano” é realmente ameaçador . Instala-se um ciclo vicioso : evita-se para não sofrer e sofre-se por não conseguir deixar de evitar. O viver normalmente, bloqueando o ir e vir socialmente, passa a ser sonho, fantasia, utopia. Uma quase impossibilidade, sempre racionalizada por essa ou aquela razão, como se existisse alguma razão física ou psicológica que justifique o confinamento existencial.

Não se deixa de viver por preguiça mas por recusa, gerada pelas ingênuas razões que a mente vai acumulando, valendo-se das ideações negativas que vão passando do inconsciente coletivo para o nosso in-consciente pessoal. São vivências internalizadas por modismos sociais que variam com o tempo,com as culturas ou as circunstâncias..

O verdadeiro si mesmo é o ser em si, o ser que é e esse não se parece com isso ou aquilo, não é gordo nem magro, sagaz ou bobo, inteligente ou ignorante, bonito ou feio. Esse ser povoa uma pessoa real, viva, original, ainda que parecida diferente de todos as outras. Essa pessoa nasceu vocacionada para a totalidade, para a plenitude. E não para a parcialidade nem para sentir-se isto ou aquilo na dependência absoluta das circunstancias que lhe envolvem. Dizendo de outra forma : ninguém precisa sonhar ser alguém já é tudo o que pode ser, sentir e fazer. Por si mesma e por todos os outros.

O tempo mostra que a beleza ou feiúra da auto imagem não é a que o espelho reflete. O tempo não destrói a beleza ainda que as tranças de ouro se convertam em prata.