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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Estabilizar o desequilíbrio

Álvaro Acioli

O desequilíbrio é hoje a norma social dominante. A família está perdendo gradativamente as condições de influir na orientação de seus membros. A escola não tem tempo, nem recursos, para ensinar tudo o que se tornou indispensável.A cultura, descaracterizada pelo processo de globalização, perdeu seus rumos, deixando de conferir identidade. A sociedade que devia ajustar, orientar e conduzir está cada vez mais desajustada. E, completamente subordinada à selvageria do mercado, também deixou de proteger os seus cidadãos..

Os homens não "são iguais perante a lei" e deixaram de ocupar o centro das atenções , em sua própria sociedade.A fome, as guerras, as doenças de massa e a destruição ecológica continuam dominando o panorama social. Permanecem como problemas não resolvidos, depois dos milhões de anos já passados de história humana.

Um dos maiores problemas para um desenvolvimento mais saudável é hoje a construção de uma afirmação individual independente.Essa dificuldade tende a agravar-se, na medida em que a competição exige, desde a mais tenra idade, uma busca incessante de mais conhecimento e competência .

E, enquanto isso acontece, reduz-se o tempo disponível para refletir sobre essa inquietante experiência existencial.O conhecimento gera cada vez mais saber e transformação. E o excesso de informação, muito acima da capacidade de processamento pessoal, aumenta o pânico individual, causando distúrbios emocionais severos, que provocam verdadeiros quadros patológicos.

A aceleração da vida social também multiplica a ocorrência de situações novas, frente às quais é cada vez menos aplicável a experiência pessoal anterior. As pessoas estão mais instruídas e bem menos educadas. Predominam atitudes regressivas, cujos sinais mais visíveis são : o imediatismo, a esperteza, o sadomasoquismo, a rebeldia imotivada e o ócio.

Os comportamentos de auto e hetero agressão exibem um mesmo e vicioso ciclo : dependência -- fanatismo -- toxicomania -- violência -- dependência ! Observa-se, por outro lado, uma necessidade incontrolável de fugir do tempo presente, pela absoluta incapacidade de vivenciá-lo.

É trabalho de todos ajudar, sobretudo aos mais jovens, independentemente do já vivido, do não vivido, da satisfação e da insatisfação. E indispensável que todos assumam os riscos próprios do viver e se preocupem menos com o que “não se é” ou com o que “não se está sendo”.

Precisamos também torcer para que o homem consiga descobrir o que está realmente acontecendo em sua vida, que separe o que ele é do que ele tem ou pensa que precisa possuir e , ainda, que aprenda a escolher e decidir. Mas é quase impossível , para o homem contemporâneo, manter o seu equilíbrio interno ; talvez lhe reste apenas a possibilidade de estabilizar o próprio desequilíbrio.