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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Estresse e estilo de vida

Alvaro Acioli
A avaliação do estresse exige que se relacione os distúrbios ocorridos com os acontecimentos do cotidiano, de quem os apresenta.  Esclarece muito pouco a análise isolada do padecimento, de um só dia. Regra geral ele exterioriza dificuldades ante as quais a pessoa perdeu a capacidade de responder satisfatoriamente.
O estresse não é uma experiência ligada à modernidade.O homem pré-histórico, confrontado com muitos desconhecidos, já o padecia. Trata-se de uma resposta arcaica do organismo, que manteve-se inalterada, com o passar do tempo. Na reação básica a glândula supra-renal lança adrenalina no sangue; aumentam a freqüência cardíaca e a pressão arterial. Deslocam-se, também, para o sangue, a glicose e a gordura armazenadas, combustíveis que o organismo utiliza para fugir ou lutar, nas situações de estresse.
A resposta de fuga ou de luta é a chave para a compreensão do estresse, no mundo moderno. O homem pré-histórico, com naturalidade, lutava ou fugia, conseguindo sempre metabolizar as substâncias secretadas pelo organismo. Já o homem moderno raramente pode lutar ou  fugir, do perigo ou do conflito. Na maioria das vezes é obrigado a internalizar suas reações. Acaba, dessa forma, não metabolizando a glicose nem a gordura mobilizadas, o que acaba por causar prejuízos circulatórios, sobretudo quando a pressão está alterada, pela descarga de adrenalina.
Mas há particularidades na forma de reagir ao estresse. O indivíduo não o padece de uma forma original ; ele o enfrenta, valendo-se de sua experiência prévia . E reage em função da interferência que sofrem o seu sentimento de segurança e o seu projeto de vida. Obviamente, a situação torna-se mais delicada quanto maior é a expectativa, do grupo, em relação ao desempenho individual. Além disso pesam fatores gerais relacionados, sobretudo, com a  extraordinária mudança ocorrida no estilo de vida das pessoas, neste inicio de século. Principalmente, a elevação dramática do número de acontecimentos, estímulos e fatores causadores de risco/perigo, que os indivíduos são compulsoriamente obrigados a enfrentar.
 A comunicação global e instantânea também ampliou a extensão do imediato, acabando definitivamente com os marcos que delimitavam grupos e sociedades. Não existe hoje uma única ameaça suficientemente remota, que não possa nos atingir. A conseqüência desse fato é intensificação da vigilância individual.
Está sempre aumentando a quantidade de informações recebidas, enquanto diminui o tempo que as pessoas  dispõem,  para examinar e reagir.   
O estado de estimulação permanente torna os indivíduos incapazes de resolver, na prática, a necessidade condicionada de lutar e de fugir. E essa dificuldade gera um quadro de alarme crônico, que ataca o indivíduo, com descargas víscero-vasculares continuadas.
Por outro lado, todos os homens estão  inapelavelmente submetidos ao estresse ambiental. E isso faz com que o comportamento e a experiência das pessoas acabem apresentando uma grande vulnerabilidade ao meio e aos agentes nocivos auto gerados.
O estílo de vida também determina o surgimento de situações que causam ou potencializam os fatores de risco, especialmente : o consumismo, a intoxicação eletrônica, a desorientação urbana, o cáos ocupacional e a competição excessiva. Acrescente-se a tudo isso, uma vida sedentária, alimentação inadequada, o fumo e o consumo abusivo de álcool e outros tóxicos. E tudo isso ocorrendo num cotidiano cada vez mais imprevisível.
O comportamento estressado estrutura-se, de preferência, em personalidades que vivem lutando para manter a auto-imagem. E que tentam, obstinadamente, exercer um forte controle sobre o ambiente externo, embora estejam sempre buscando apoio e segurança.
Os bloqueios emocionais acabam provocando uma instabilidade neurofisiológica. E os acidentes da vida, ativando respostas condicionadas, desencadeiam os distúrbios psicossomáticos, que hoje dominam a realidade médica e social.