Alvaro Acioli
A avaliação do
estresse exige que se relacione os distúrbios ocorridos com os acontecimentos
do cotidiano, de quem os apresenta.
Esclarece muito pouco a análise isolada do padecimento, de um só dia. Regra
geral ele exterioriza dificuldades ante as quais a pessoa perdeu a capacidade
de responder satisfatoriamente.
O estresse não é uma experiência ligada à
modernidade.O homem pré-histórico, confrontado com muitos desconhecidos, já o
padecia. Trata-se de uma resposta arcaica do organismo, que manteve-se
inalterada, com o passar do tempo. Na reação básica a glândula supra-renal
lança adrenalina no sangue; aumentam a freqüência cardíaca e a pressão
arterial. Deslocam-se, também, para o sangue, a glicose e a gordura
armazenadas, combustíveis que o organismo utiliza para fugir ou lutar, nas
situações de estresse.
A resposta de fuga ou de luta é a chave
para a compreensão do estresse, no mundo moderno. O homem pré-histórico, com
naturalidade, lutava ou fugia, conseguindo sempre metabolizar as substâncias
secretadas pelo organismo. Já o homem moderno raramente pode lutar ou fugir, do perigo ou do conflito. Na maioria
das vezes é obrigado a internalizar suas reações. Acaba, dessa forma, não
metabolizando a glicose nem a gordura mobilizadas, o que acaba por causar
prejuízos circulatórios, sobretudo quando a pressão está alterada, pela
descarga de adrenalina.
Mas há particularidades na forma de reagir
ao estresse. O indivíduo não o padece de uma forma original ; ele o enfrenta,
valendo-se de sua experiência prévia . E reage em função da interferência que
sofrem o seu sentimento de segurança e o seu projeto de vida. Obviamente, a
situação torna-se mais delicada quanto maior é a expectativa, do grupo, em
relação ao desempenho individual. Além disso pesam fatores gerais relacionados,
sobretudo, com a extraordinária mudança
ocorrida no estilo de vida das pessoas, neste inicio de século. Principalmente,
a elevação dramática do número de acontecimentos, estímulos e fatores
causadores de risco/perigo, que os indivíduos são compulsoriamente obrigados a
enfrentar.
A comunicação global e instantânea também
ampliou a extensão do imediato, acabando definitivamente com os marcos que
delimitavam grupos e sociedades. Não existe hoje uma única ameaça
suficientemente remota, que não possa nos atingir. A conseqüência desse fato é
intensificação da vigilância individual.
Está
sempre aumentando a quantidade de informações recebidas, enquanto diminui o
tempo que as pessoas dispõem, para examinar e reagir.
O
estado de estimulação permanente torna os indivíduos incapazes de resolver, na
prática, a necessidade condicionada de lutar e de fugir. E essa dificuldade
gera um quadro de alarme crônico, que ataca o indivíduo, com descargas víscero-vasculares
continuadas.
Por
outro lado, todos os homens estão
inapelavelmente submetidos ao estresse ambiental. E isso faz com que o
comportamento e a experiência das pessoas acabem apresentando uma grande
vulnerabilidade ao meio e aos agentes nocivos auto gerados.
O estílo de vida também determina o
surgimento de situações que causam ou potencializam os fatores de risco,
especialmente : o consumismo, a intoxicação eletrônica, a desorientação urbana,
o cáos ocupacional e a competição excessiva. Acrescente-se a tudo isso, uma
vida sedentária, alimentação inadequada, o fumo e o consumo abusivo de álcool e
outros tóxicos. E tudo isso ocorrendo num cotidiano cada vez mais imprevisível.
O
comportamento estressado estrutura-se, de preferência, em personalidades que
vivem lutando para manter a auto-imagem. E que tentam, obstinadamente, exercer
um forte controle sobre o ambiente externo, embora estejam sempre buscando
apoio e segurança.
Os
bloqueios emocionais acabam provocando uma instabilidade neurofisiológica. E os
acidentes da vida, ativando respostas condicionadas, desencadeiam os distúrbios
psicossomáticos, que hoje dominam a realidade médica e social.