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domingo, 6 de maio de 2012

Bando tecnológico planetário


Alvaro Acioli
A história demonstrou exaustivamente que a luta feroz,   entre os que ainda  buscam  alimento,pode  ser  substituída por  formas solidárias de apropriação.
Num dia longínquo, em algum lugar do planeta, alguns homens fizeram  uma descoberta  fundamental : a  fome não era uma sensação particular, mas uma  experiência  compartilhada.
Nesse mesmo instante notaram  que  diante da  fome todos os homens padeciam  do mesmo sofrimento.
Os primeiros homens, que escaparam da fome, procuraram uma solução coletiva, estimulados por indagações angustiantes : o que comer?  onde encontrar comida? como evitar a  fome amanhã? o que fazer para nunca mais ter fome?
É  razoável  imaginar terem percebido que o bando podia garantir a  todos  a  oportunidade de comer, do alimento disponível,   o que necessitassem  para   viver. E decidido guardar  o excedente, quando houvesse,  para os tempos de escassez.
Essa  simples decisão preservou a  solidariedade e a  paz  e, consequentemente, a  sobrevivência  do bando primitivo.
A  mesma  fome imperiosa, que destruia a coexistência, foi  convertida em força aglutinadora, garantindo ao grupo, além  da  sobrevivência,  a  realização de suas potencialidades humanas.
Mas nas situações históricas vividas, desde então,  foi  se tornando impossível a  preservação dessas soluções,  tão simples e  claras.
A fome voltou  a dominar  a  consciência dos homens, impedindo-os de usar novamente a  razão.
As manifestações de loucura, provocadas  pela  fome, se espalharam por todos os cantos da terra. Os dados oficiais indicam  que duas terças  partes da  população do mundo encontra-se em  estado de miséria  absoluta : não come o suficiente para  manter a própria  força  física.
Embora perseguidos pelo fantasma da  fome, desde o seu aparecimento, os homens ainda não compreenderam que ela não é apenas uma manifestação de privação nutricional, de falta do que comer.
A fome é um problema  transcendente, de cuja solução depende o destino da  própria humanidade.
O mais curioso nessa história é que, teoricamente, esse problema fundamental  está resolvido. A  tecnologia disponível  é capaz de produzir alimentos, em quantidade suficiente para atender às necessidades de todos os habitantes de nosso planeta. 
Já não seria utopia imaginar os homens vivendo numa sociedade sem  famintos nem  mendigos.
Mas infelizmente, em nosso  bando tecnológico planetário, predominam  ideologias e modelos políticos que precisam  manter  a grande maioria dos homens  com  fome, para  escravizá-los com  mais facilidade.