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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O verdadeiro si mesmo


Álvaro Acioli
Caríssima  ...
A criancinha que cobre o rostinho com suas mãozinhas está convencida de que se escondeu completamente. Falta-lhe a consciência   do corpo global. Ela Identifica suas partes corporais mas não internalizou ainda uma imagem física completa. Isso vai acontecendo ao longo de sua socialização.
Curiosamente a consciência desse esconder-se dos outros  - durante toda a existência –se acompanha da  vivência de estar escondendo (mais que o próprio corpo) o si mesmo reconhecido por razões (geralmente ilusórias, ainda que bem racionalizadas) não prazerosas.
A perseveração desse procedimento  de  bloqueio relacional acaba por consolidar a vivência imaginaria de que o “encontro” humano é realmente ameaçador . Instala-se um ciclo vicioso : evita-se para não sofrer e sofre-se por não conseguir evitar.
O viver normalmente, bloqueando o  ir e vir socialmente, passa a ser sonho, fantasia, utopia. Uma quase impossibilidade, sempre racionalizada por essa ou aquela razão, como se existisse algum motivo física ou psicológica que justifique o confinamento existencial.
Não se deixa de viver por preguiça mas por recusa, gerada pelas ingênuas razões que a mente vai acumulando, valendo-se das imaginações negativas que vão passando do inconsciente social para o nosso inconsciente pessoal. São vivências internalizadas por modismos sociais que variam com o tempo e hoje, principalmente com o marketing.
O verdadeiro si mesmo é o ser em si, o ser que é e esse não parece isso ou aquilo, não é gordo nem magro, sagaz ou bobo, inteligente ou ignorante, bonito ou feio. Esse ser povoa uma pessoa real, viva, original, ainda que parecida diferente de todos os outros.
Essa pessoa nasceu construída para a totalidade, para a plenitude. E não para a parcialidade nem para sentir-se isto ou aquilo, na dependência absoluta das circunstancias que a envolvem.
Dizendo de outra maneira : você não precisa sonhar ser você já é tudo o que pode ser, sentir e fazer. Por si mesma e por todos os outros coexistentes.
O tempo mostra que a beleza ou a feiura da auto imagem não é a que o espelho reflete. O tempo não destrói a beleza ainda que as tranças de ouro se convertam em prata.