Álvaro Acioli
A vegetação que cobre os continentes,
se fosse completamente preservada, neutralizaria os cem bilhões de toneladas de
gás carbônico que as plantas e os animais produzem.
Mas isso não seria suficiente para
purificar a atmosfera do mundo. Os
carros, aviões e centrais elétricas já
provocam a redução, em dez por cento, do oxigênio existente.
Todas as formas de vida respiram com
dificuldade e a terra está completamente ofegante.
O abastecimento de água potável também
foi seriamente reduzido. Por outro lado, somente uma oitava parte da fina
crosta da terra pode ser habitada.
Infelizmente a destruição das florestas
continua proliferando através do planeta, ameaçando a vida de todas as
espécies.
Novos desertos surgem, por todos os
lados. E os já existentes estão em franca expansão. O Saara avança 12.000
hectares, por ano.
Os combustíveis fósseis e os minérios são consumidos, bilhões de vezes mais rapidamente, que a
possibilidade de regeneração.
Para Jonathan Weiner "...a mudança
nos elementos da Terra vem sendo mais acelerada do que foi nos últimos 10 mil
anos - desde o fim da era glacial. As crianças de hoje testemunharão, no correr
de suas vidas, mais mudanças do que houve no planeta, desde o surgimento da
civilização". E disse mais que a velocidade dessa transformação é bem
maior do que a nossa capacidade de
entendê-la.
Essa intensa destruição das reservas
energéticas obriga uma aceleração artificial dos processos naturais de
reciclagem.
Os agressores do meio ambiente contam,
todavia, com uma forte cumplicidade internacional. As advertências científicas
não conseguiram criar a idéia de que são limitados os recursos do planeta.
O homem ainda se ilude imaginando que a
natureza pródiga continuará repondo o que ele desperdiça. Acredita que
conseguirá, por um longo tempo,
purificar os esgotos que lança nos rios e os poluentes que joga no ar.
As dificuldades também são crescentes
no campo social do planeta. A
teleinvasão abalou comportamentos fundamentais como a solidariedade, a
fraternidade e a tolerância. Por outro lado, recrudesceram as formas mais
primitivas da convivência humana.
Falta a consciência global de que a
própria espécie humana está ameaçada de extinção. A persistir essa situação o
homem pode vir a juntar-se ao dinossauro, desaparecido há milhões de anos.
Mas, apesar de todo esse quadro
sombrio, muitos cientistas preservam
o otimismo quanto ao futuro do mundo.
Para eles, bastaria que, além de
regulamentar a pesca e o desflorestamento,
a sociedade humana encontrasse soluções consensuais para o uso do
oxigênio e da água.
É uma manifestação de extrema
ingenuidade ou de alta sabedoria. Ou, quem sabe, a conclusão amadurecida de que devemos
cultivar a simplicidade, colocar a vida cotidiana no centro de nossa reflexão
filosófica, reaprendendo a separar os "possíveis" dos
"impossíveis" e das utopias, como bem disse Henri Lefebvre.