O desequilíbrio é hoje a norma social
dominante. A família está perdendo gradativamente as condições de influir na
orientação de seus membros. A escola não tem tempo, nem recursos, para ensinar
tudo o que se tornou indispensável.
A cultura, descaracterizada pelo
processo de globalização, perdeu seus rumos, deixando de conferir identidade. A
sociedade que devia ajustar, orientar e conduzir está cada vez mais
desajustada. E, completamente subordinada à selvageria do mercado, também
deixou de proteger os seus cidadãos..
Os homens não "são iguais perante
a lei" e deixaram de ocupar o centro das atenções , em sua própria
sociedade.
A fome, as guerras, as doenças de massa
e a destruição ecológica continuam dominando o panorama social. Permanecem como
problemas não resolvidos, depois dos
milhões de anos já passados de
história humana.
Um dos maiores problemas para um
desenvolvimento mais saudável é hoje a
construção de uma afirmação
individual independente.
Essa dificuldade tende a agravar-se, na
medida em que a competição exige, desde a mais tenra idade, uma busca
incessante de mais conhecimento e competência .
E, enquanto isso acontece, reduz-se o
tempo disponível para refletir sobre essa
inquietante experiência
existencial.
O conhecimento gera cada vez mais saber
e transformação. E o excesso de informação, muito acima da capacidade de
processamento pessoal, aumenta o pânico individual, causando distúrbios
emocionais severos, que provocam verdadeiros quadros patológicos.
A aceleração da vida social também
multiplica a ocorrência de
situações novas, frente às quais é cada vez menos aplicável a experiêncial pessoal anterior.
As pessoas estão
mais instruídas mas bem menos educadas. Predominam atitudes regressivas, cujos
sinais mais visíveis são : o imediatismo, a esperteza, o sado-masoquismo, a
rebeldia imotivada e o ócio.
Os
comportamentos de auto e hetero agressão exibem um mesmo e vicioso ciclo
: dependência -- fanatismo --
toxicomania -- violência -- dependência !
Observa-se, por outro lado, uma
necessidade incontrolável de fugir do tempo presente, pela absoluta incapacidade de vivenciá-lo.
É
trabalho de todos ajudar, sobretudo aos mais jovens, independentemente
do já vivido, do não vivido, da
satisfação e da insatisfação.
E indispensável que todos assumam os
riscos próprios do viver e se
preocupem menos com o que “não se é” ou
com o que “não se está sendo”.
Precisamos também torcer para
que o homem consiga desocobrir o
que está realmente acontecendo em sua vida, que separe o que ele é do que ele
tem ou pensa que precisa possuir e ,
ainda, que aprenda a escolher e decidir.
Mas é quase impossível , para o homem
contemporâneo, manter o seu
equilíbrio interno ; talvez lhe
reste apenas a possibilidade de estabilizar o próprio desequilíbrio.