Alvaro Acioli
Na
medicina primitiva, praticada em outros tempos ou nos lugares não alcançados
pela civilização, bastava ou ainda basta, consolar e apoiar os enfermos. E
suplicar aos deuses um sofrimento menor quando não julgassem justo restabelecer
a saúde dos infieis.
Para o
exercício desse tratamento penitencial,
restava aos terapeutas praticar o exorcismo e aos
enfermos aceitar os sacrifícios e contribuir com as oferendas recomendadas.
Mas esse
pensamento mágico vem perdendo força desde que os gregos começaram a praticar,
nos séculos VI e V a.C., uma medicina
que Platão chamaria pouco depois de científica.
Infelizmente, hoje não dá mais para acreditar que as
doenças são castigos divinos;
penalidades impostas aos homens por transgressões sociais, por sua
impureza moral, pela prática de pecados a que não conseguem renunciar.
Fora
dessa compreensão histórica, a
degradação da assistência pública prestada à população brasileira, em todos os
quadrantes do país, é uma triste e lamentável
realidade. Poucas são as Instituições Públicas que conseguem manter um
padrão de qualidade compatível com os avanços da ciência médica.
A velha
rede assistencial está sucateada, por absoluta falta de conservação.
Enfermarias e hospitais inteiros são fechados diariamente, para desespero de
uma crescente legião de desamparados.
Equipamentos
caros deixam de funcionar, por carência de recursos para sua manutenção ou
por terem sido instalados fora das
especificações técnicas.
A publicação
da pesquisa “Perfil dos Médicos no Brasil”, realizada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, mostra entretanto
que ao lado de dados alarmantes existem
esperanças renovadas.
O
trabalho deixa claro que, em nosso País,
a saúde pública não é considerada um bem essencial para o Estado; há mais de 4.500 municípios sem qualquer
assistência.
Apenas
19,6% dos médicos pesquisados não se queixaram de desgaste no exercício
profissional. E os principais motivos alegados para o desgaste foram: excesso
de trabalho, jornada de trabalho prolongada, múltiemprego (27%); baixa
remuneração(17%); precárias condições de trabalho(16%); área de
atuação/especialidade(9%); excesso de responsabilidade, relação de vida e morte
com os pacientes (12%) .
Também
ficou claro que, apesar de toda a adversidade, o amor à
profissão e a satisfação de exercer a
medicina foram os sentimentos que predominaram, na quase totalidade das entrevistas.
Por
outro lado, verificamos que, na área do
ensino médico, melhorar o currículo é a palavra de ordem; predomina o desejo de
aperfeiçoar a instrução sem descuidar da
educação, visando mais competência e
mais humanização.
Saúde
e Paz para todos nós.