Alvaro Acioli
O desequilíbrio é hoje a norma social dominante. A família está perdendo gradativamente as condições de influir na orientação de seus membros. A escola não tem tempo, nem recursos, para ensinar tudo o que se tornou indispensável.A cultura, descaracterizada pelo processo de globalização, perdeu seus rumos, deixando de conferir identidade. 
A sociedade que devia ajustar, orientar e conduzir está cada vez mais desajustada. E, completamente subordinada à selvageria do mercado, também deixou de proteger os seus cidadãos.
Os homens não "são iguais perante a lei" e deixaram de ocupar o centro das atenções , em sua própria sociedade.A fome, as guerras, as doenças de massa e a destruição ecológica continuam dominando o panorama social. Permanecem como problemas não resolvidos,  depois dos milhões de anos já passados de  história  humana.
Um dos maiores problemas para um desenvolvimento mais  saudável  é hoje a  construção de  uma afirmação individual independente.Essa dificuldade tende a agravar-se, na medida em que a competição exige, desde a mais tenra idade, uma busca incessante de mais conhecimento e competência .E, enquanto isso acontece, reduz-se o tempo disponível para refletir sobre essa  inquietante experiência  existencial.
O conhecimento gera cada vez mais saber e transformação. E o excesso de informação, muito acima da capacidade de processamento pessoal, aumenta o pânico individual, causando distúrbios emocionais severos, que provocam verdadeiros quadros patológicos. A aceleração da vida social  também  multiplica a ocorrência de  situações novas, frente às quais é cada vez menos aplicável a  experiêncial pessoal anterior.
As pessoas estão cada vez mais instruídas mas bem menos educadas. Predominam atitudes regressivas, cujos sinais mais visíveis são : o imediatismo, a esperteza, o sado-masoquismo, a rebeldia imotivada  e o ócio.Os  comportamentos de auto e hétero agressão exibem um mesmo e vicioso ciclo : dependência  -- fanatismo -- toxicomania -- violência -- dependência. 
Observa-se, por outro lado, uma necessidade incontrolável de fugir do tempo presente, pela absoluta  incapacidade de vivenciá-lo.É  trabalho de todos ajudar, sobretudo aos mais jovens, independentemente do já vivido, do não vivido, da  satisfação e da insatisfação.
E indispensável que todos assumam os riscos próprios do viver  e se preocupem  menos com o que “não se é” ou com  o que “não se está sendo”.Precisamos também  torcer para  que o homem  consiga descobrir o que está realmente acontecendo em sua vida, que separe o que ele é do que ele tem ou pensa que precisa possuir  e , ainda, que aprenda a escolher e decidir.
Mas é quase impossível , para  o homem  contemporâneo, manter o seu  equilíbrio interno ; talvez  lhe reste apenas a possibilidade de estabilizar o próprio desequilíbrio.

 
 
