Associados

domingo, 28 de agosto de 2011

Estabilizar o desequilíbrio

Alvaro Acioli
O desequilíbrio é hoje a norma social dominante. A família está perdendo gradativamente as condições de influir na orientação de seus membros. A escola não tem tempo, nem recursos, para ensinar tudo o que se tornou indispensável.
A cultura, descaracterizada pelo processo de globalização, perdeu seus rumos, deixando de conferir identidade. A sociedade que devia ajustar, orientar e conduzir está cada vez mais desajustada. E, completamente subordinada à selvageria do mercado, também deixou de proteger os seus cidadãos..
Os homens não "são iguais perante a lei" e deixaram de ocupar o centro das atenções , em sua própria sociedade.
A fome, as guerras, as doenças de massa e a destruição ecológica continuam dominando o panorama social. Permanecem como problemas não resolvidos, depois dos milhões de anos já passados de história humana.
Um dos maiores problemas para um desenvolvimento mais saudável é hoje a construção de uma afirmação individual independente.
Essa dificuldade tende a agravar-se, na medida em que a competição exige, desde a mais tenra idade, uma busca incessante de mais conhecimento e competência .
E, enquanto isso acontece, reduz-se o tempo disponível para refletir sobre essa inquietante experiência existencial.
O conhecimento gera cada vez mais saber e transformação. E o excesso de informação, muito acima da capacidade de processamento pessoal, aumenta o pânico individual, causando distúrbios emocionais severos, que provocam verdadeiros quadros patológicos.
A aceleração da vida social também multiplica a ocorrência de situações novas, frente às quais é cada vez menos aplicável a experiêncial pessoal anterior.
As pessoas estão mais instruídas mas bem menos educadas. Predominam atitudes regressivas, cujos sinais mais visíveis são : o imediatismo, a esperteza, o sado-masoquismo, a rebeldia imotivada e o ócio.
Os comportamentos de auto e hetero agressão exibem um mesmo e vicioso ciclo : dependência -- fanatismo -- toxicomania -- violência -- dependência !
Observa-se, por outro lado, uma necessidade incontrolável de fugir do tempo presente, pela absoluta incapacidade de vivenciá-lo.
É trabalho de todos ajudar, sobretudo aos mais jovens, independentemente do já vivido, do não vivido, da satisfação e da insatisfação.
E indispensável que todos assumam os riscos próprios do viver e se preocupem menos com o que “não se é” ou com o que “não se está sendo”.
Precisamos também torcer para que o homem consiga desocobrir o que está realmente acontecendo em sua vida, que separe o que ele é do que ele tem ou pensa que precisa possuir e , ainda, que aprenda a escolher e decidir.
Mas é quase impossível , para o homem contemporâneo, manter o seu equilíbrio interno ; talvez lhe reste apenas a possibilidade de estabilizar o próprio desequilíbrio.