Álvaro Acioli
Circulam pela internet, cada vez mais freqüentemente, apresentações louvando um tipo de vida e de valores que o avanço teria banido da vida cotidiana.
Variam nesses saudosos relatos apenas os temas e os períodos citados (e isso se comprova pelos fatos e aspectos comentados) em relação com as décadas e as etapas vividas pelos autores.
É comum, a todos os escritos, o exame linear dos acontecimentos locais (ou tribais, se preferirem) de uma forma inteiramente desvinculada das realidades históricas, tanto presentes quanto pretéritas.
Essas comunicações costumam ainda exaltar o respeito e a dignidade como se fossem primados relacionais de ditas épocas, também enaltecidas como belos exemplos de sabedoria e sutileza comportamentais.
Os relatos mais radicalizados chegam a afirmar que até as próprias guerras e eventos bélicos eram romanticamente tratadas, através de filmes glamorosos.
Esse banzo particularíssimo, que uma grande maioria exalta periodicamente, essa saudade incontida de um passado idílico anteriormente usufruído, sempre existiu e continuará acompanhando a sociedade humana.
Trata-se de uma vivência arcaica, ontológica. Uma vivência que perpetua o trauma pela perda do paraíso, que os registros históricos situam na tragédia primordial de Adão e Eva.
Na sucessão interminável dos tempos e das culturas, os valores e paradigmas sócio-culturais substituídos (ou derrubados) sempre geraram sentimentos de perda irreparável, desencanto acentuado ou profunda insatisfação.
Recordo Casemiro de Abreu: “... Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais!”
E John Milton, em Paraíso Perdido, Canto I, quando diz a certa altura : “ ... a morte e todo o mal na perda do Éden, até que o Homem maior pôde remir-nos e a dita celestial dar-nos de novo.” Melanie Klein situou o grande drama existencial do homem, nos albores de sua existência, quando se viu obrigado a abandonar o seio bom, que lhe nutria generosa e incondicionalmente. Esse afastamento compulsório colocou um ponto final na lúdica e fascinante experiência iniciada pelo ser potencial, após sua fecundação e posterior fixação no útero, seu primeiro e encantado abrigo.Uma calorosa morada onde recebeu, desde o inicio, tudo o que necessitava para viver a sua grande aventura: alimento farto, completa proteção e amor incondicional.
Ainda que muitos discordem, creio que a perda dessa vida dourada é que originou o eterno banzo dos anos dourados perdidos e racionalizados, por cada geração, com aproximações históricas.
Considero relevante o fato de que começamos a vida recebendo tudo o que literalmente precisamos para nosso crescimento e desenvolvimento.
Essa nirvanesca condição é experimentada antes de termos exercitado, na plenitude, nossas surpreendentes ( e fascinantes) qualidades inatas.
O maior prêmio da vida nos é concedido logo ao inicio da jornada, com a maior generosidade e compaixão possíveis. Começamos a vida numa condição de acolhimento incondicional.
Uma dificuldade fundamental para todos nos, que começamos a longa caminhada nesse verdadeiro nirvana é precisar relembrá-lo (para renovar nossas esperanças) e ter ao mesmo tempo de esquecê-lo, para poder sobreviver aos tempos de incertezas e desafios surgidos.
Foi talvez para nos advertir desse fato que Paul Vallery disse “que o passado e o futuro foram as duas maiores invenções da humanidade.”
Por certo que sem passado não há referências e sem futuro não há esperanças.
Quem sabe também se um dos maiores desafios da vida não seja justamente aprender a viver continuadamente lembrando e esquecendo, ora a vida dourada inicial ora a vida amarga presente?
http://mosaicoexistencial.blogspot.com/2009/07/paraiso-perdido.html
Circulam pela internet, cada vez mais freqüentemente, apresentações louvando um tipo de vida e de valores que o avanço teria banido da vida cotidiana.
Variam nesses saudosos relatos apenas os temas e os períodos citados (e isso se comprova pelos fatos e aspectos comentados) em relação com as décadas e as etapas vividas pelos autores.
É comum, a todos os escritos, o exame linear dos acontecimentos locais (ou tribais, se preferirem) de uma forma inteiramente desvinculada das realidades históricas, tanto presentes quanto pretéritas.
Essas comunicações costumam ainda exaltar o respeito e a dignidade como se fossem primados relacionais de ditas épocas, também enaltecidas como belos exemplos de sabedoria e sutileza comportamentais.
Os relatos mais radicalizados chegam a afirmar que até as próprias guerras e eventos bélicos eram romanticamente tratadas, através de filmes glamorosos.
Esse banzo particularíssimo, que uma grande maioria exalta periodicamente, essa saudade incontida de um passado idílico anteriormente usufruído, sempre existiu e continuará acompanhando a sociedade humana.
Trata-se de uma vivência arcaica, ontológica. Uma vivência que perpetua o trauma pela perda do paraíso, que os registros históricos situam na tragédia primordial de Adão e Eva.
Na sucessão interminável dos tempos e das culturas, os valores e paradigmas sócio-culturais substituídos (ou derrubados) sempre geraram sentimentos de perda irreparável, desencanto acentuado ou profunda insatisfação.
Recordo Casemiro de Abreu: “... Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais!”
E John Milton, em Paraíso Perdido, Canto I, quando diz a certa altura : “ ... a morte e todo o mal na perda do Éden, até que o Homem maior pôde remir-nos e a dita celestial dar-nos de novo.” Melanie Klein situou o grande drama existencial do homem, nos albores de sua existência, quando se viu obrigado a abandonar o seio bom, que lhe nutria generosa e incondicionalmente. Esse afastamento compulsório colocou um ponto final na lúdica e fascinante experiência iniciada pelo ser potencial, após sua fecundação e posterior fixação no útero, seu primeiro e encantado abrigo.Uma calorosa morada onde recebeu, desde o inicio, tudo o que necessitava para viver a sua grande aventura: alimento farto, completa proteção e amor incondicional.
Ainda que muitos discordem, creio que a perda dessa vida dourada é que originou o eterno banzo dos anos dourados perdidos e racionalizados, por cada geração, com aproximações históricas.
Considero relevante o fato de que começamos a vida recebendo tudo o que literalmente precisamos para nosso crescimento e desenvolvimento.
Essa nirvanesca condição é experimentada antes de termos exercitado, na plenitude, nossas surpreendentes ( e fascinantes) qualidades inatas.
O maior prêmio da vida nos é concedido logo ao inicio da jornada, com a maior generosidade e compaixão possíveis. Começamos a vida numa condição de acolhimento incondicional.
Uma dificuldade fundamental para todos nos, que começamos a longa caminhada nesse verdadeiro nirvana é precisar relembrá-lo (para renovar nossas esperanças) e ter ao mesmo tempo de esquecê-lo, para poder sobreviver aos tempos de incertezas e desafios surgidos.
Foi talvez para nos advertir desse fato que Paul Vallery disse “que o passado e o futuro foram as duas maiores invenções da humanidade.”
Por certo que sem passado não há referências e sem futuro não há esperanças.
Quem sabe também se um dos maiores desafios da vida não seja justamente aprender a viver continuadamente lembrando e esquecendo, ora a vida dourada inicial ora a vida amarga presente?

 
 
