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sábado, 25 de abril de 2009

Os telenautas e a educação

Alvaro Acioli

"Um homem pode agora ser visto e ouvido, onde quer que esteja no planeta. E e aí onde estiver, pode ser morto também". Foi a imagem de que valeu-se Servan Schreiber para mostrar a que ponto a tecnologia conduziu o homem, nesses 500 mil anos de história.
Foram definitivamente alterados os conceitos de tempo e de espaço. A telecomunicação universaliza realidades sem considerar diferenças. O homem cresce hoje num ambiente social criado por impulsos eletrônicos. Experimenta a ilusão de que tudo está pronto e pode ser explicado. Essa nova realidade conduziu o sonho infantil à alucinação com as galáxias e ao delírio com sêres interplanetários. A fantasia que enriquecia, no passado, a imaginação da criança, foi praticamente abolida. Os veículos de comunicação criaram um mundo falsamente agradável, constituído por uma infinidade de produtos e serviços a serem buscados. Recorrendo a estímulos carregados de fortes apelos emocionais as mensagens eletronicas provocam o impulso de adquirir e consumir, indiscriminadamente.
Colocando o mundo em sua tela a TV inibe a caminhada inversa. Essa é uma de suas facetas mais perigosas. A capacidade de mostrar lugares e pessoas, superando todos os limites, sem exigir qualquer contribuição, exerce um fascínio cada vez mais intenso em todos os envolvidos com a tele-presença ou, se preferirem, entre os telenautas.
As crianças estão vivendo uma realidade adulta, controlada eletronicamente. O buscar e o descobrir, que era o natural da vida, foi substituído pelo hábito de procurar o que é recomendado. A vontade humana deixou de ser individual, passando a ser condicionada pelos meios de comunicação. O panorama é diferente em raríssimas áreas do globo. Em pequenas e longínquas localidades, onde a influência das telecomunicações ainda não se tornou dominante. E certamente isso continuará acontecendo por muito pouco tempo.
Um amadurecimento conduzido pela pressão do consumo e um aprendizado orientado pela mais valia dirigem o crescimento hmano. É claramente previsível que as crianças de hoje, adultos do amanhã, sejam atingidos em seu desenvolvimento e venham futuramente a apresentar sérios problemas em sua saúde mental. O entretenimento eletrônico tornou-se uma droga que deve ser considerada uma das mais perigosas, dentre todas as existentes.
Sentar-se diante de um aparelho de TV ou PC e nada fazer. É esse o modelo padrão de socialização que está sendo praticado. A televisão e o computador excluem qualquer outra forma de atividade. Ocupando todo o tempo disponível da criança, não a deixa viver, no devido tempo, experiências indispensáveis ao seu crescimento pessoal.
A modificação dos hábitos de leitura é outro grande problema. O número de crianças e adultos que não está lendo livros convencionais parece estar aumentando com a expansão dos brinquedos eletrônicos e da tele-educação. A ideologia dos veículos de comunicação transmitida sem explicações complementares ou a mediação crítica dos educadores é inoculada nos telespectadores. E como as crianças estão vendo muito mais os programas destinados aos adultos, perdem a noção entre os dois mundos: o seu e o deles.
Tratado adultamente, desde cedo, a criança não chega entretanto a ser um adulto. Está sendo embotada para a percepção do meio ambiente e de suas reais condições de existência. Tudo o que é "ensinado" é "aprendido" e vira modelo. É absorvido da forma como foi comunicado. Sem resistência.
E todos nós sabemos que essa escola maior não tem qualquer compromisso ético guiando-se, exclusivamente, pelas forças irracionais do mercado.