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segunda-feira, 5 de maio de 2008

Meditação a ginástica do espírito

José T Arantes,Vera Magyar e Evany L Castro

Meditação a ginástica do espírito. Técnicas milenares
ajudam a vencer o stress, melhorar a performance profissional
e até reeducar menores infratores.

Uma antiga anedota indiana compara a mente a um macaco bêbado. Ela faz todas as travessuras possíveis, até que enfim se cansa e mergulha num profundo torpor. Para disciplinar essa mente inquieta, os iogues elaboraram várias técnicas, conhecidas como dhyana ou meditação. Seu objetivo é silenciar o ruído incessante da mente, mas, ao mesmo tempo, mantê-la plenamente acordada. Formas ora mais ou ora menos fiéis, ora mais ou ora menos corretas dessas técnicas meditativas chegaram ao Ocidente e estão sendo cada vez mais utilizadas - com sucesso - para várias finalidades, da busca do autoconhecimento à melhoria da performance em competições esportivas, do controle do stress à cura de várias doenças, do aumento da produtividade em empresas à reeducação de menores infratores. "Conheci a meditação na minha busca por equilíbrio interior. Com ela, consegui uma mente mais calma e focada", diz a consagrada atriz Yoná Magalhães. Outro conhecido adepto dessa disciplina é o jornalista Heródoto Barbeiro: "Eu pratico a meditação zazen, da vertente budista. Ela aquieta minha mente, me faz descansar e me coloca física e mentalmente em ordem. Sempre que tenho de enfrentar alguma situação difícil, medito antes".Ao longo de milênios, formas específicas de meditação foram desenvolvidas por diversas tradições espirituais - como as diferentes escolas de ioga indianas, o taoísmo chinês, os vários ramos do budismo, a cabala judaica, o sufismo islâmico e o misticismo cristão. O alvo dessas técnicas é limpar a mente, fortalecer a concentração e expandir a consciência a níveis que são simplesmente inimagináveis para quem nunca experimentou.Na maioria dos casos, os procedimentos não são divulgados abertamente, sendo ensinados apenas numa relação direta entre professores e alunos. O motivo do sigilo não é assegurar aos detentores desses conhecimentos uma reserva de mercado. Mas impedir que os formatos das meditações sejam desfigurados por comunicações defeituosas. Ou que técnicas avançadas sejam praticadas por pessoas que ainda não estão suficientemente preparadas para isso.A medicina ocidental vem-se interessando, cada vez mais, pelos benefícios da meditação. E já mobilizou todo o seu aparato científico-tecnológico para medi-los. Uma pesquisa pioneira, realizada em 1971 na Universidade de Harvard, Estados Unidos, constatou que a meditação propicia um nível de relaxamento muito mais profundo do que o do sono - considerado até então pela ciência o estado de maior repouso fisiológico.A investigação foi realizada por dois professores da universidade, o cardiologista Herbert Benson e o psicólogo Roberth Keith Wallace. Eles selecionaram 36 pessoas de ambos os sexos, na faixa dos 17 aos 41 anos. Apresentaram-lhes uma técnica simples de meditação. E, enquanto os voluntários a praticavam, monitoraram vários de seus parâmetros fisiológicos, como consumo de oxigênio, freqüência cardíaca, resistência elétrica da pele, ritmo cerebral (eletroencefalograma) e concentração de ácido láctico no sangue (substância química relacionada ao stress).RejuvenescimentoOs pesquisadores constataram, por exemplo, que o consumo de oxigênio diminuía de 16 a 18% durante a meditação, contra apenas 8% no sono. O experimento foi publicado numa das mais conceituadas revistas científicas do mundo, a Scientific American, e chamou a atenção da comunidade médica, pois o repouso é considerado uma condição básica para a ativação dos processos auto-organizadores e regenerativos do organismo. Depois do estudo de Benson e Wallace, centenas de pesquisas foram realizadas em nada menos de 27 países. Elas mobilizaram instituições tão respeitáveis como as universidades de Harvard e da Califórnia, nos Estados Unidos, de Oxford, na Inglaterra, e de Lund, na Suécia. E foram publicadas em periódicos com a prestígio da Nature, da Science, da Lancet, do New England Journal of Medicine e do Journal of the American Medical Association.Entre os benefícios listados por essas pesquisas estão a diminuição do stress e da ansiedade, o controle da insônia, da depressão e de várias doenças psicossomáticas, a superação da agressividade, fobias e neuroses, a redução do consumo de álcool, cigarros, tranqüilizantes e drogas, a normalização da pressão arterial e o aumento da eficiência cardiovascular, a correção do peso e o rejuvenescimento, a melhoria do desempenho esportivo, escolar e profissional, a implementação das capacidades de concentração, aprendizagem, memória e criatividade, a conquista de uma maior estabilidade emocional e de sentimentos de cordialidade, amor, felicidade e paz.No Brasil, o poder de cura da meditação está sendo utilizado num trabalho de recuperação de menores infratores - com excelentes resultados. A experiência vem se realizando em São Paulo, na Unidade Educacional do Complexo Imigrantes, da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem).