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quarta-feira, 27 de julho de 2011

A arte de tolerar

Álvaro Acioli

As descobertas científicas, tão ardentemente buscadas, não distribuíram, por todos os homens, de forma eqüitativa, os extraordinários frutos do progresso alcançado. Como conseqüência desse fato, em pleno século XXI, ainda existem sociedades que continuam caçando e colhendo, como o faziam seus antepassados, no tempo das cavernas.

O recrudescimento de todas as formas de violência é o grande traço comum, do momento histórico que estamos vivendo. É o paradigma do instante social, cheio de comportamentos e circunstâncias contraditórias.

As divergências éticas, econômicas e políticas se acentuam, dificultando o entendimento e a intercolaboração entre os homens.

Os fanatismos religiosos multiplicados também reduzem a capacidade de grupos e nações aceitarem “verdades” que estejam fora dos dogmas que professam.

A intolerância está na base desse desacordo generalizado que se observa no mundo. A intolerância e não a Aids é o grande mal desse momento histórico. Mal que é responsável pela morte de todos os famintos do nosso planeta e dos que se matam, irmãos ou não, sob qualquer pretexto.

Intolerância que espalha a dominação e o genocídio, que transforma o outro em inimigo irreconciliável, pelo simples fato de ser outro. Intolerância que exclui os diferentes e as minorias, que cultua a unanimidade, que se opõe a manifestações autênticas de afirmação e liberdade. Intolerância fascinada pelo poder absoluto sobre os homens, seus territórios e seus pensamentos .

O destino humano depende agora, fundamentalmente, de uma tolerância comprometida com os direitos fundamentais, capaz de respeitá-los acima das circunstâncias e das conveniências, preocupada em ajudar a sociedade a beneficiar-se justamente da diversidade no pensar e no agir.

Aperfeiçoar a arte de tolerar tornou-se uma providência decisiva, nessa quadra atormentada da história. Não se trata de tolerância diante dos poderosos, sempre à espera de “consentimentos oficiais” para manifestar-se, pois isso é apenas conformismo e acomodação.

Mas a grande maioria dos homens tem julgado ser quase impossível agir dessa forma. E esse é justamente o desafio maior que o exercício da tolerância coloca : ser possível e parecer, ao mesmo tempo, uma utopia.