Alvaro Acioli 

Montaigne disse certa vez que nada causa mais medo
do que o próprio medo.
Talvez tenha sido essa a razão do sucesso alcançado
pelos filmes de Hitshcock.
do que o próprio medo.
Talvez tenha sido essa a razão do sucesso alcançado
pelos filmes de Hitshcock.
O grande cineasta trabalhava com o medo dos espectadores e não com o dos protagonistas.
Levado a antecipar o perigo iminente, o espectador aguardava aterrorizado a sua consumação, cheio de pesar e culpa, por não poder avisar nem salvar a vítima, povoado por um sentimento de cumplicidade criminosa.
Uma grande maioria da população não consegue hoje libertar-se de pequenos problemas e conflitos, cuja compreensão ou solução não vislumbram .
Observa-se, em todos os lugares, uma permanente tensão de expectativa ; o medo de ter medo, um pavor de que aconteça sempre o pior. Soma-se a esse fato uma ideia de impotência, o sentimento de estar isolado numa multidão composta por pessoas que se tocam, sem comunicar-se. A espera crônica de um perigo iminente acaba transformando o medo no estado constante.
Vive-se hoje a expectativa permanente de três "D" : desgraça, doença e desventura. Ou então, pensando na linha dos fatos: desconhecido, desesperador ou diabólico.
Multiplicam-se os estudos e trabalhos mostrando as repercussões físicas causadas por esse estado de vigilância e apreensão, além do razoável.
A consequência mais frequente é uma excessiva mobilização neurofisiológica, que acaba provocando manifestações psicossomáticas, de todos os tipos.
E a ocorrência desses quadros aumenta mais ainda a insegurança original, fechando o círculo vicioso.
Em outras épocas, as pestes, desconhecidas para o saber oficial, eram enfrentadas com cerimônias rituais. Procissões, jejuns e penitências públicas; mesmo que não melhorassem a saúde dos enfermos, contribuíam para aliviar o medo coletivo.
O avanço tecnológico, por mais paradoxal que pareça, criou dificuldades assemelháveis.
Novas e mais perigosas pestes desafiam agora o conhecimento tecnológico disponível,abalando a confiança do homem na ciência criada por ele.
O acesso desigual aos avanços científicos acumulados aumenta mais ainda o medo e o desespero, da maior parcela dos humanos.
Falta principalmente, aos homens assustados de hoje, a paciência com que seus antepassados tentavam descobrir novos caminhos, nas mais difíceis e perigosas jornadas de outros tempos.
Estamos padecendo o "Mal de Hitchcock" : nossa memória e imaginação não param de evocar riscos e ameaças iminentes, em quase todas as experiências humanas e situações sociais.

 
 
