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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O princípio do humano

Alvaro Acioli
Desde o nascimento o bebê tem condições de perceber, agir e reagir. Não é uma folha em branco oferecida aos nossos registros. Vem ao mundo com uma organização própria e pode assumir um grande número de iniciativas. A relação mãe-bebê é uma interação e não somente uma ação que depende exclusivamente dos esforços da mãe. Ela gera respostas físicas e fisiopsicológicas de uma importância decisiva para a vida do pequeno infante. A privação materna pode reduzir a resistência a infecções e aumentar os riscos de vida.Estudos realizados sobre percepções precoces de bebês indicam que eles nascem com uma acentuada capacidade de discriminar os estímulos recebidos. Essa condição já existe na vida intra-uterina, precisando de pouca informação e aprendizagem para ser desencadeada. As mensagens do bebê buscam sempre provocar o cuidados de que necessita. O comportamento infantil desperta os impulsos maternais. Os bebês prematuros confirmam essa afirmação. Como oferecem um baixo estímulo às mães, por causa das deficiências motoras e de comunicação, nem sempre são por elas correspondidos, na medida de suas necessidades e carências.O recém-nascido recebe estímulos visuais que identifica e aos quais responde de forma diferenciada. Quanto aos sons, os bebês mostram uma nítida preferência para os que são emitidos pela voz humana. E, em especial, pela voz feminina. E logo ao nascer podem girar a cabeça, preferentemente, em direção a uma fonte com odor de leite humano.Traços básicos da individualidade já se manifestam nos primeiros momentos da vida e persistem, independentemente das influências recebidas do meio ambiente. O bebê se orienta e presta atenção aos estímulos externos. E, ainda que de uma forma precária, ele regula as respostas em função do seu estado interior.Mesmo antes de começar a falar , o bebê já cobriu uma grande parte do caminho, na sua aventura humana. Nessa viagem que realiza ele não é um mero beneficiário, mas um participante ativo na relação que estabelece com todos e com tudo.A criança aprende, primeiro, a significar, a dar sentido ao mundo e às pessoas que a cercam. A relação face a face, entre o bebê e sua mãe, caracteriza a primeira etapa da vida infantil. Na medida em que se desenvolve, essa linguagem facial vai se aperfeiçoando.A maior parte da comunicação aprendida ocorre nas fases iniciais da vida, muito antes da criança alcançar a idade escolar. Mas programas precoces de enriquecimento da linguagem só são úteis quando adaptados à idade e ao estágio do desenvolvimento.Os comportamentos indispensáveis para o relacionamento social, vão se estruturando gradativamente. Cada etapa é condição necessária para o aparecimento da seguinte. Deficiências iniciais, consequentes a carências afetivas ou outras, podem ter efeitos a longo prazo e mesmo vir a causar danos irreversíveis.“Para desenvolver sua personalidade, de modo pleno e harmonioso, a criança necessita de amor e compreensão...Sempre que possível, deve crescer sob a proteção e a responsabilidade dos pais, ou, em qualquer caso, numa atmosfera de afeto e segurança moral e material...A criança de tenra idade não deve ser separada da mãe, salvo em circunstâncias excepcionais...A sociedade e os poderes públicos têm a obrigação de dispensar cuidados especiais às crianças sem família e às que não dispõem de meios suficientes de subsistência... A criança deve, em todas as circunstâncias, figurar entre os primeiros a receberem proteção e socorro." Tornar realidade esses e os demais propósitos da Declaração dos direitos da criança, é uma luta a ser travada diariamente pelos que desejam construir um mundo sem discriminações, onde as crianças possam nascer e crescer livremente.