Associados

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Vôo existencial regressivo - Alvaro Acioli

Parece que a sociedade humana vive uma loucura caracterizada por uma tempestade de emoções contraditórias e multifacetadas; vivência essa que ainda estamos longe de saber ou de descobrir meios de explicar ou resolver.
Por isso eu creio que não é o cotidiano que nos cega. Para mim nós é que perdemos a capacidade de perceber esse cotidiano alucinado que nos envolve, onde se misturam vivências passados com anseios futuros. Futuros que viram passados antes de serem aprendidos criticamente de uma forma relevante ou mais compreensiva.
Nessa fugacidade existencial tudo se fragmenta ou se esfumaça. Como conseqüência, uma cegueira social promove a busca incontrolável de renovadas crenças, outros gurus e xamãs, e irmãos (não carnais) mas fraternalmente solidários.
E essa busca é grandemente estimulada pelo medo e pela culpa, socialmente introjetados, responsáveis pela idéia de que é utopia uma construção pessoal alternativa, um mundo existencial singular.
Sentindo-se condenado o homem oscila entre escapar (com idéias e ilusões paralisantes) ou agir irracionalmente ( aderindo ao primarismo tribal).
E tem preferido o retorno à experiência tribal primitiva, que além de ensejar o controle de medos e a expiação das culpas torturantes, premia os neo-colonizados com a desejada (e necessária) identidade, só que sócio-tribal.
Para que esse milagre redentor ocorra basta apenas a submissão incondicional aos rituais, regras e dogmas da tribo acolhedora. E, é claro, ser aceito como novo membro do clã.
A partir desse vôo existencial regressivo todos os conflitos se resolvem e os temidos demônios são exemplarmente exorcizados. O século XXI está sendo tido por muitos, entre os quais Maffesolli, como o novo “ Tempo das Tribos”.
A partir desse vôo existencial regressivo todos os conflitos se resolvem e os temidos demônios são exemplarmente exorcizados.
Amedrontado por não ser, nem acreditar poder-ser, o homem está fugindo apressadamente de si mesmo. Essa fuga acaba por levá-lo a render-se ao nada em si, afundando-o na des-identidade.
Estaríamos assistindo outro crepúsculo da razão ou estão sendo gestadas novas razões, no mosaico de realidades em que nosso mundo se transformou ?
O fato é que tudo parece cada vez mais relativo, que ninguém sabe mais o que está realmente acontecendo.
Mais do que nunca, a descoberta do si mesmo tornou-se o maior mistério colocado para os humanos contemporâneos.