Roberto Acioli
 As crises generalizadas na família, na escola, na fábrica, no hospital, na prisão, mostrariam que estas instituições estão no fim. Talvez porque o elemento que às gerou esteja também em seus últimos dias. Michel Foucault chamou esse modelo de Sociedade Disciplinar – as instituições citadas acima seriam meios de confinamento típicos desses modelo. Foucault nos apresentou dois modelos, a Sociedade de Soberania e a Sociedade Disciplinar. Na primeira, a propriedade era tirada dos produtores e a morte dos faltosos era uma regra – admistrava-se a morte. Na segunda, que Foucault localizou entre os séculos XVIII e XIX, a ênfase é organizar a produção e administrar a vida – daí a família, a escola, a fábrica, o hospital e a prisão. Estavamos sempre passando de um espaço confinado a outro. O panóptico ficou famoso como exemplo do modelo Disciplinar. Trata-se de uma tradução deste modelo na arquitetura dos prédios. Assim, prisões, hospitais, escolas ou fábricas passaram a ser planejadas para que os detentos, os pacientes, os alunos ou os operários pudessem ser vigiados sem que percebessem – quem não se lembra daquelas janelinhas nas portas das salas de aula !!! A passagem do primeiro modelo ao segundo parece ter sido em grande parte operada por Napoleão, cuja campanha militar teria tido como pelo menos um dos objetivos destruir o modo de produção feudal. Entretanto, isto não significa que estes modelos teham um encadeamento cronológico – países ou regiões contemporâneas no tempo estão em pontos diferentes em relação a cada modelo. Na família, todos os movimentos eram esquadrinhados, seja por constrangimentos morais, seja pelo fato de que a maioria dos quartos dá para uma sala ou corredor das casas – claro que estamos falando de uma classe social que tem alguma noção, ou dinheiro, para pensar em privacidade. E hoje, o que temos ? Os filhos das classes desfavorecidades são vigiados pelas câmeras nas ruas e nos presídios. Os filhos das classes abastadas pagam serviços de rastreamento por satélite para seguir os carros de seus filhos e se fecham em condomínios caros e cheios de câmeras. Os pais ligam para eles pelo celular - e já existem pesquisas para fazer o rastreamento por satélite através do celular. É assim que Israel tem, da segurança de um helicóptero pairando bem alto, localizado e morto líderes palestinos oposicionistas. Mas haveria uma nova fase, que Foucault reconheceu como nosso futuro. A Sociedade de Controle parece haver se firmado ao fim da Segunda Guerra Mundial. [1] Paul Virilio mostra que as Novas Tecnologias da Comunicação haveriam sido apropriadas por este modelo. O que mostra a análise feita por Virilio é a transformação dos meios informáticos de transmissão de mensagens em formas de controle ao ar livre. Deleuze sugere que é próprio das Sociedades de Controle a operação dessas máquinas. É um panoptismo a céu aberto: os indivíduos não tem mais que ser enclausurados para serem vigiados, bastas esquadrinhar e codificar seu espaço. “O que conta não é a barreira [um muro ou uma parede alta, como o Muro de Berlin ou aquele que Israel pretende fazer para separá-los dos palestinos], mas o computador que localiza a posição de cada um, lícita ou ilícita, e opera uma modulação universal”. [2] O apogeu da Sociedade Disciplinar foi o princípio do século XX. Estamos no princípio do século XXI. O que temos ? O que queremos ? O que desistimos de querer ? Como antes, continuamos construíndo mais muros do que pontes (entre nós e os outros, entre nós e os corações dos outros, entre nós e nossos próprios corações). Pouco importa se agora o muro é virtual. Um muro é um muro !!![1] DELEUZE, Giles. Pourparlers. Paris: Les Éditions de Minuit, 1990.
[2] Ibidem, p. 246.
Roberto Acioli é Doutor em Comunicação e Cultura, UFRJ..
[2] Ibidem, p. 246.
Roberto Acioli é Doutor em Comunicação e Cultura, UFRJ..

 
 
