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sexta-feira, 5 de junho de 2009

Estabilizar o desequilibrio

Alvaro Acioli
O desequilíbrio é hoje a norma social dominante. A família está perdendo gradativamente as condições de influir na orientação de seus membros. A escola não tem tempo, nem recursos, para ensinar tudo o que se tornou indispensável. A cultura, descaracterizada pelo processo de globalização, perdeu seus rumos, deixando de conferir identidade. A sociedade que devia ajustar, orientar e conduzir está cada vez mais desajustada. E, completamente subordinada à selvageria do mercado, também deixou de proteger os seus cidadãos.
Os homens não "são iguais perante a lei" e deixaram de ocupar o centro das atenções, em sua própria sociedade.A fome, as guerras, as doenças de massa e a destruição ecológica continuam dominando o panorama social. Permanecem como problemas não resolvidos, depois dos milhões de anos já passados de história humana.Um dos maiores problemas para um desenvolvimento mais saudável é hoje a construção de uma afirmação individual independente. Essa dificuldade tende a agravar-se, na medida em que a competição exige, desde a mais tenra idade, uma busca incessante de mais conhecimento e competência. E, enquanto isso acontece, reduz-se o tempo disponível para refletir sobre essa inquietante experiência existencial. O conhecimento gera cada vez mais saber e transformação. E o excesso de informação, muito acima da capacidade de processamento pessoal, aumenta o pânico individual, causando distúrbios emocionais severos, que provocam verdadeiros quadros patológicos. A aceleração da vida social também multiplica a ocorrência de situações novas, frente às quais é cada vez menos aplicável a experiencia pessoal anterior.
As pessoas estão mais instruídas, mas bem menos educadas. Predominam atitudes regressivas,
cujos sinais mais visíveis são: o imediatismo, a esperteza, o sado-masoquismo,a rebeldia imotivada e o ócio.
Os comportamentos de auto e hetero agressão exibem um mesmo e vicioso ciclo: dependência -- fanatismo -- toxicomania -- violência -- dependência!
Observa-se, por outro lado, uma necessidade incontrolável de fugir do tempo presente, pela absoluta incapacidade de vivenciá-lo.É trabalho de todos ajudarem, sobretudo aos mais jovens, independentemente do já vivido, do não vivido, da satisfação e da insatisfação.E indispensável que todos assumam os riscos próprios do viver e se preocupem menos com o que “não se é” ou com o que “não se está sendo”.Precisamos também torcer para que o homem consiga descobrir o que está realmente acontecendo em sua vida, que separe o que ele é do que ele tem ou pensa que precisa possuir e, ainda, que aprenda a escolher e decidir.
É quase impossível, para o homem contemporâneo
manter o seu equilíbrio interno;talvez lhe reste apenas a possibilidadede estabilizar o próprio desequilíbrio.