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domingo, 12 de outubro de 2008

CIRCULO VICIOSO

Alvaro Acioli
São os tóxicos instrumentos de contestação ou refúgio dos que buscam o que desconhecem e não encontram nos seus semelhantes uma vontade de ajudar a suavizar os seus sofrimentos e a reencontrar a esperança perdida?O homem, em sua ingenuidade, tem procurado incansavelmente drogas ou outros meios que alterem a sua consciência. Essa busca seguiu um caminho paralelo ao da história. O desejo de amenizar a realidade da vida parece ter sido sempre a motivação principal.Mas algumas coisas mudaram nesses tempos globalizados. Em todos os cantos passaram a fermentar, no compasso da tecnologia, mudanças que no passado, naturalmente, eram resolvidas ou controladas.
A era da comunicação de massa acentuou conflitos num mundo já pouco voltado para a intercolaboração e o entendimento.Tornou-se mais crítico o relacionamento entre o que já era e o que passou a ser; entre as pessoas já formadas - seus padrões, conceitos, princípios e objetivos - e as que estão sendo formadas - suas dúvidas, angústias, necessidades e expectativas. E raramente as respostas são oferecidas ou encontradas.
Hoje o tóxico é uma grande preocupação. Ontem não o foi. Amanhã, talvez, não o seja. Os tóxicos, como todas as mazelas sociais, não são causas, mas efeitos. Embora pareça uma missão quase impossível é preciso buscar as razões geradoras.
O que se vê nas grandes concentrações humanas atuais é um tocar-se sem comunicar-se, a angústia na multidão, o isolamento sem espaço, a ingestão, a cada instante, de mais problemas sem qualquer esperança de solução.Estamos aprisionados no círculo vicioso do não-entendido, do anti-simples.
Os que detêm o conhecimento ou o poder imaginam-se irresponsavelmente acima de julgamentos, completamente desobrigados dos menores gestos de fraternidade.Há um distanciamento que faz irreconhecíveis os que convivem e estranhos os que conversam. Continua sem solução o desafio social primeiro: aprimorar a relação do homem com o seu semelhante.São o pavor da solidão e a amargura pessoal que levam os homens a se entreguem às drogas.
Ao invés de implorarem piedade, a seus malfeitores, eles até deveriam perdoá-los. Pelo descaso e pela indiferença que demonstram. Até porque esse comportamento de extremo egoísmo deve esconder o temor do próprio fracasso.
Não adianta sofisticar o combate às drogas e multiplicar os recursos para tratar suas conseqüências se não enfrentamos, com o mesmo empenho, as causas do sofrimento humano. A humanização da vida é o melhor remédio contra as drogas e os males sociais.
Precisamos adotar - enquanto há tempo - as práticas rudimentares que chegaram a tornar santos os que, simplesmente, num passado que insistimos em desconhecer, viveram suas existências no compromisso do amor solidário com seus semelhantes.