 O mundo-teatro encena suas peças, em todas as partes, promovendo a idéia de que o ver e o saber são mais importantes que o ser. Mas para o mundo-mercado o caminho redentor está no ter e não no ser.
 O mundo-teatro encena suas peças, em todas as partes, promovendo a idéia de que o ver e o saber são mais importantes que o ser. Mas para o mundo-mercado o caminho redentor está no ter e não no ser.A universalização da informática unificou esses dois mundos, no mundo do espetáculo, onde tudo se transforma em representação. Representa-se o ser, o ter, o viver, o saber. E, principalmente, o se relacionar e o amar. 
O neo-liberalismo sexual fincou sua bandeira, na infovia, sem respeitar fronteiras, dogmas, éticas, religiões, tradições ou culturas. Os “sites” amorosos são cada dia mais numerosos. A sedução, sob suas múltiplas formas, domina a grande rede; existem desde as modalidades mais ingênuas, dos namoros bem comportados, às taras mais escabrosas. 
Os amantes infonautas valem-se do anonimato, que o ciberespaço propicia. A aproximação direta envolve riscos que a maioria não consegue enfrentar. A relação virtual possibilita, antes de qualquer entrega, uma investigação preliminar e um aprofundamento cujo limite é dado pelo interlocutor, que vive o mesmo relacionamento defensivo. A experiência caminha sem qualquer obrigação de efetivação. 
Na relação usual parte-se do conhecido para o desconhecido; no encontro virtual parte-se do desconhecido (do mágico ou do simbólico) podendo-se ou não chegar ao conhecido. Também é mais fácil enganar-se e enganar ao outro. 
Os info-amantes são imigrantes, que adentram outros mundos afetivos, sem sair de casa, sem deixar o colo da mãe. Viajam literalmente sem lenço nem documento. O espaço virtual é um território utópico ; existe fora de qualquer sociedade concreta, sempre cheia de regras e preconceitos. 
Nele pode-se ver e falar, com o outro, sem se mostrar; pode trazer-se o longe para perto, sem eliminar a distância. Basta uma senha para entrar na infovia. Não é preciso provar, a todo instante, a inocência, o que se faz ou de onde se vem. Pode-se conversar, ou até amar, sem trocar palavras. É possível rescrever o diálogo, ao sabor das circunstâncias, com total ajuda do superego, que de inimigo transforma-se em aliado. 
Na falsa intimidade da telinha a grande realidade é a representação do vivido; distanciados de nós mesmos temos a ilusão prazerosa da cessação de todos os nossos conflitos. O narcisismo se aperfeiçoa : sentimo- nos melhores, mesmo copiando os outros. 
Vive-se, simultaneamente, o real e o imaginário. Troca-se a relação com o meio pela relação com o espaço. Foge-se do social para o espacial, onde é possível administrar, com muito mais facilidade, medos e culpas. 
A vida torna-se um sonho conscientemente elaborado. Troca-se o concreto pelo simbólico, o fazer pelo ver e o sentir pelo imaginar. Mesmo não sendo nada, em seu território, o indivíduo torna-se o dono do mundo. 

 
 
