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domingo, 11 de maio de 2008

Estresse e estilo de vida

A avaliação do estresse exige que se relacione os distúrbios ocorridos com os acontecimentos do cotidiano de quem os apresenta. Esclarece muito pouco a análise isolada do sofrimento, de um só dia. Regra geral o episódio crítico exterioriza dificuldades ante as quais a pessoa perdeu a capacidade de responder satisfatoriamente. O estresse não é uma experiência ligada à modernidade. O homem pré-histórico, confrontado com muitos desconhecidos, já o padecia. Trata-se de uma resposta arcaica do organismo, que se manteve inalterada, com o passar do tempo. Na reação básica a glândula supra-renal lança adrenalina no sangue; aumentam a freqüência cardíaca e a pressão arterial. Deslocam-se, também, para o sangue, a glicose e a gordura armazenadas, combustíveis que o organismo utiliza para fugir ou lutar, nas situações de perigo. A resposta de fuga ou de luta é a chave para a compreensão do estresse, no mundo moderno. O homem pré-histórico lutava ou fugia, com naturalidade, conseguindo sempre digerir as substâncias que o organismo secretava. Já o homem moderno raramente pode lutar ou fugir, do perigo ou do conflito. Na maioria das vezes é obrigado a internalizar suas reações. Acaba, dessa forma, não metabolizando a glicose nem a gordura mobilizada, o que acaba por causar prejuízos circulatórios, sobretudo quando a pressão está alterada, pela descarga de adrenalina. Mas há particularidades, na forma de reagir ao estresse. O indivíduo não o padece de uma forma neutra ; ele o enfrenta, valendo-se de sua experiência prévia . E reage em função da ameaça à sua segurança e projeto de vida. Obviamente, a situação é mais delicada quanto maior é a expectativa, do grupo, em relação ao desempenho individual. Além disso pesam fatores gerais relacionados, sobretudo, com a extraordinária mudança no estilo de vida das pessoas, ocorrida neste final de século. Principalmente, a elevação dramática do número de acontecimentos, estímulos e fatores causadores de risco/perigo, que os indivíduos são compulsoriamente obrigados a enfrentar. A comunicação global e instantânea também ampliou a extensão do imediato, acabando definitivamente com os marcos que delimitavam grupos e sociedades. Não existe hoje uma única ameaça suficientemente remota, que não possa atingir a qualquer homem. A conseqüência desse fato é a intensificação da vigilância individual. Contudo, está sempre aumentando a quantidade de informações recebidas, enquanto diminui o tempo que as pessoas dispõem, para examinar e reagir. O estado de estimulação permanente torna os indivíduos incapazes de resolver, na prática, a necessidade condicionada de lutar e de fugir. E essa dificuldade gera um quadro de alarme crônico, que ataca o indivíduo, com descargas víscero-vasculares continuadas. Por outro lado, todos os homens estão inapelavelmente submetidos ao estresse ambiental. E isso faz com que o comportamento e a experiência das pessoas acabem apresentando uma grande vulnerabilidade ao meio e aos agentes nocivos autogerados. O estilo de vida também determina o surgimento de situações que causam ou potencializam os fatores de risco, especialmente : o consumismo, a intoxicação eletrônica, a desorientação urbana, o caos ocupacional e a competição excessiva. Acrescente-se uma vida sedentária, alimentação inadequada, o fumo e o consumo abusivo de álcool. E tudo isso ocorrendo num cotidiano imprevisível. Inúmeros estudos mostram, ainda, contribuições negativas de acontecimentos ocorridos no período de socialização infantil. Já nessa etapa podem forjar-se reações patológicas capazes de atacar o corpo ou a maioria dos órgãos vitais. O comportamento estressado estrutura-se, de preferência, em personalidades que vivem lutando para manter a auto-imagem. E que tentam, obstinadamente, exercer um forte controle sobre o ambiente externo, embora estejam sempre buscando apoio e segurança. Os bloqueios emocionais acabam provocando uma instabilidade neurofisiológica. E os acidentes da vida, ativando respostas condicionadas, desencadeiam os distúrbios psicossomáticos, que hoje dominam a realidade médica e social.
Alvaro Acioli