Associados

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Mistérios da adolescência

Alvaro Acioli
O adolescente quer resolver suas dificuldades ou conflitos, antes de tomar as iniciativas indispensáveis para que isso aconteça. É comum ouví-los recusar sugestões e propostas, sem examiná-las adequadamente.
Uma tentação incontrolável de viver o futuro, no instante, domina essa etapa da trajetória humana.Qualquer projeto pedagógico voltado a esse contexto deve partir do respeito às necessidades internas, que essa situação existencial mostra.
São mais viáveis os programas não autoritários ou superprotetores, que propõem trabalho mais cooperativo.A tão falada agressividade da adolescência é mais defensiva, volta-se a medos e conflitos infantis não superados.
O adolescente ataca a si mesmo, no outro, ou se defende, também dele próprio, por imaginar-se ilusoriamente atacado. O pretensioso “eu sou assim mesmo” geralmente protege uma maneira de ser que o incomoda, por vezes, mais do que aos outros.
A incapacidade de enfrentar as perdas sucessivas acentua os sentimentos de insegurança. Mas, na situação-adolescente, não existe uma relação absoluta entre frustração e resposta agressiva. A sua agressividade geralmente se exterioriza quando a frustração (e as perdas que causa) libera sentimentos de impotência pré-existentes.
Na busca incontrolável por afirmar-se o adolescente sente-se muitas vezes impelido a destruir fora fantasmas que, na realidade, estão dentro dele. Estudar o comportamento assumido pelo adolescente continua sendo uma tarefa indispensável.
Os seus conflitos filosófico-existenciais se acentuam com a crescente dificuldade de objetivar idéias e formular conceitos. É compreensível, por isso mesmo, a preferência que os adolescentes dão crescentemente à linguagem corporal, quase instintiva, que permite uma interpretação mais abrangente.
Uma grande contribuição para o estudo da adolescência exige a redução dos preconceitos cristalizados sobre esse tema tormentoso. Mas essa é uma tentativa difícil, nesse momento histórico, pelas múltiplas e profundas mudanças que estão acontecendo.
Os fatos psicológicos são, ao mesmo tempo, individuais e sociais. Os fatores culturais dão apenas um colorido social à conduta, que a história individual personaliza.
A normalidade e a anormalidade, também aqui, estão muito ligadas às expectativas psicológicas, pouco ou nada esclarecendo sobre o ator humano em sua representação no palco social.
Bem mais importante do que classificar a conduta do adolescente é entender sua relação com o cenário onde ocorre, a simbologia de exteriorização de seus mitos.
A adolescência é um período, fase, etapa ou forma de comportamento onde se acentuam as projeções que habitam todos os demais momentos humanos.
Parece que a crise de liberdade, que sempre acompanhou o homem, torna-se apenas mais visível na experiência do adulto jovem ou enquanto ele acredita ingenuamente que nunca irá envelhecer.
Os pesquisadores precisam estudar com mais empenho os mistérios da adolescência que hoje começa cada vez mais cedo e se estende para idades cada vez mais avançadas.